Wednesday, November 11, 2009
agosto de 2009
Conheço bem a língua portuguesa. Digo, acredito saber usar as figuras de linguagem quando julgo-as bem vindas, mas os rodeios que o domínio das palavras nos permitem fazer acabam levando à uma subjetividade que no me gusta.
Percebi que o excesso de palavras não me simplifica, como pretendo.
O que não sei demais, como outras línguas que ainda não domino como a minha, me permite a simplicidade de ser - mas minha língua me excede.
Conheço muitos de seus paradoxos, sinônimos, antônimos.. Já me dei ao direito de ser romântica, barroca, árcade, modernista. E meu ser, meu peito, minhas tristezas, corresponderam sempre a todos os tempos literários a que me deixei passar, por sabê-los - só por sabê-los.
Mas pensando bem, minhas tristezas, minhas alegrias, o meu peito e o meu ser não pertecem a nenhum tempo literário. Não pertencem a nenhuma figura de linguagem, a nenhuma comparação..O conhecimento os fez fugir de si.
Acredito que o excesso faça assim.. Me faça assim. As possibilidades de ser e descrever, quando dominam-se seus significados, impedem as coisas de se serem, simplesmente.
As palavras me excedem como a vida excede o tempo...
Quero meu peito simples, amor sem antítese. Quero que se explodam as figuras da linguagem.
Quero falar por opção, a língua como acessório. Meu pulso é meu termômetro e ele sente, não fala.
Monday, November 09, 2009
Vitória de Judas
Desconsiderando o deslize da brincadeira com assuntos sagrados, o presidente Lula acertou ao dizer que, no Brasil, os governantes são obrigados a fazer aliança de anjos com demônios.
Mas não completou o raciocínio, esquecendo-se de dizer que, desde o início de nossa história, infelizmente, são os demônios que vencem, dominando os anjos.
Na passagem do século XVIII para o XIX, enquanto nos países vizinhos os líderes nacionais lutavam pela Independência e pela República contra a coroa e o colonialismo espanhol, no Brasil preferimos aliança com o próprio inimigo: o império português.
Declaramos a Independência mantendo um imperador, filho do rei da metrópole de quem queríamos nos libertar. Os anjos e os demônios se aliaram. Não fizemos guerra de libertação, mas continuamos meio-colônia.
Levamos mais 60 anos para abolir a escravidão, utilizando aliança entre abolicionistas e escravocratas, a ponto de a Lei da Abolição ter sido encaminhada ao Parlamento por um governo conservador.
A aliança entre os santos abolicionistas e os demônios escravocratas impediu a necessidade de guerra civil, mas não permitiu distribuir terra aos escravos, nem dar escolas aos filhos deles.
O mesmo aconteceu na Proclamação da República. A República foi feita por um pacto que destituiu o imperador, escolheu um presidente, mas manteve a sociedade dividida em duas camadas tão distintas quanto nos regimes imperiais.
De um lado, a elite privilegiada, nobres; de outro, uma massa excluída, plebeus. Os santos e os demônios se uniram, o Império acabou, mas a sociedade pouco mudou. No lugar de cidadãos, continuamos súditos. Por cem anos, só tivemos presidentes eleitos pela elite para servir à elite.
Foi preciso esperar o ano de 2002 para eleger um presidente filho do povo e comprometido com o povo. Mas, como ele reconhece, obrigado a aliar-se aos judas.
Não disse, porém, que ele se aliou para seu governo servir aos judas, e não para os judas servirem ao seu governo. Foi como se Judas fizesse acordo para não trair Cristo, salvando-O da Cruz, mas impedindo-O de salvar a humanidade. Judas vencendo.
O presidente filho do povo mostrou ser melhor do que os presidentes filhos da elite, mas fez alianças para não reformar a estrutura social do Brasil.
Foi mais generoso, ampliando um programa de transferência de renda para os pobres, foi capaz de um diálogo fraterno, antes inexistente, com os trabalhadores e o povo. Mas, seguiu o mesmo padrão do passado, aliando anjos e demônios para não mudar o País.
Os judas conseguiram manter a corrupção, mesmo que o presidente seja honesto. A educação de base, verdadeiro instrumento da transformação, continuou na mesma lenta evolução, sem qualquer gesto revolucionário que assegurasse aos pobres escolas iguais àquelas dos ricos.
O analfabetismo manteve-se no mesmo patamar. O modelo produtivo não mudou na busca do equilíbrio ecológico.
Nossa industrialização não foi reorientada para produtos de alta tecnologia. Sem necessidade de censura, prisão ou tortura, as discussões ideológicas foram anestesiadas: não mais debates de intelectuais; não mais gritos de estudantes.
As alianças acabaram com as reivindicações, críticas e denúncias dos partidos de esquerda. Tudo como os judas desejam e impõem há dois séculos.
Na sua perspicaz afirmação sobre a necessidade de alianças espúrias, faltou ao presidente dizer que os judas fizeram acordo a favor deles. Judas não apenas venceu, ele rebaixou os anjos.
O grave é que, na nossa história, a traição não tem sido feita pelos judas, mas pelos anjos que passam a aceitar e praticar a corrupção, o medo de revolução, a manipulação da opinião pública, o abandono de sonhos como a possibilidade dos filhos do povo terem escolas iguais às escolas dos filhos da elite.
Se Cristo e Judas tivessem feito acordo, o mundo não teria tido a Salvação; no Brasil, os acordos dos anjos com os demônios deixaram o Brasil sem Revolução.
No lugar de trinta moedas e suicídio, nossos judas governam para si e ficam rindo de nós e das metáforas feitas com eles.
Tuesday, October 20, 2009
Foucault e seus princípios mais bonitos
- Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante;
- Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal;
- Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é produtivo, não é sedentário, mas nômade;
- Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária;
- Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;
- Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”;
- Não se apaixone pelo poder."
Friday, October 16, 2009
Thursday, October 15, 2009
Wednesday, October 14, 2009
piano
o piano toca e toco as teclas do computador de cabeça abaixada, afundada no lençol branco que me enrola todas as noites...ou pelo o menos as ultimas noites, depois que trocaram o lençol do quarto sem eu sequer dar por isso...
nao faz frio...ja sao 11 e meia...nao tenho muito sono embora meus olhos se fechem sem força enquanto mantenho minha cabeça baixa, para que possa ouvir tudo aquilo que pode vir da musica...tento acompanhar com meus dedos a velocidade da musica do piano...as reticencias são seu descanso...
nao tenho certeza se quero, nesse momento, me atrelar a divagaçoes sobre a vida e como a levo...na verdade estou mais interessada em ouvir o que posso ter a não dizer quando tudo que ouço dentro de mim eh o silêncio...
não faz frio...não sei se as estrelas cobrem o céu ou se apenas o detalham...não estou de pijama mas minha calça não me incomoda...
nada que me lembre obrigação consegue me tomar à noite...eh muito louco, mas quando o céu se cobre dessa cor mais escura, o nada o acompanha; e acaba por me acompanhar também - nada em mim, nada na cama, nada na varanda, nada nos corredores, nada na cabeça....nada no corpo...é só o som...e me arrisco a dizer que não há nada no som....mas logo me arrependo porque percebo que há, no som, aquilo que não há em mim...
e por isso o ouço...numa tentativa, não sei dizer se frustada ou não, de sentimentalizar esse meu deitar, despretensioso....de fazer pulsar alguma coisa que não pulsa, de incomodar isso que não incomoda...ou de desacomodar o que acomoda...
é curioso estar aqui....uma boa sensação de paz e alívio me deita as costas....e nesse momento descanso, ainda que com saudade dos dias que entrava por essa minha janela (que agora dei pra deixar aberta do lado esquerdo, não o direito) qualquer sentimento que eu logo tentava nomear.
é estranho crescer....a naturalidade vai tomando conta de mim e me deixo mais ir pelo o mundo do que pretendo levá-lo comigo, uni-lo a mim.
fui perdendo a compulsão pelo controle e comecei a me deixar ser controlada...pelo som do piano...pelo nada que me invade...pelas estrelas que eu não vejo....por aquilo que não toco...que não julgo...que não compartilho....
quando levanto a cabeça para mudar de música percebo que muitas pessoas falam comigo nessas janelas laranjas que piscam....mas não quero romper com a sensação de que fui invadida finalmente por aquilo que temia: a sensação de estar indo, de estar sendo levada. levada por aquilo que chamam de acaso ou destino...ou pela vida simplesmente, para os mais amplos....
como conceituar alguém
conheceria alguém apenas com os meus olhos...
sem saber o que dizem seus amigos, seus inimigos. sem saber seus erros se não fossem aqueles contados por sua alma. gostaria de sentir o quanto essa alma, assim como quando está sozinha.
sem saber seus grandes feitos, ou ouvir elogios de outras bocas...esses, vistos com outros olhos.
gostaria de poder conceituar o que conheço sem a interferência de outras vozes, outras interpretações. não é egoísmo, nem tem nada a ver com não querer vê-la de outra forma que não a minha; por que não é a minha forma: é a sua.
gostaria de poder me desprender dessa interferência externa para poder dizer se me rendo ou não ao que se mostra à mim.
não me importo se já tenha ganhado grandes prêmios, assaltado pequenas vidas, quebrado alguns corações. quero tragar só aquilo que puder me dar.
não quero enxergar com outros olhos...é devastador, tanto para mim quanto para quem se mostra, ter sua construção de si invadida por uma história contada, de quem sequer a viveu.
como se alguém pudesse reproduzir em algumas frases como foi o meu último relacionamento...e deixasse marcada nela o seu julgamento impróprio. esse é o ser mais invasivo: o que se dá ao direito de julgar sem tê-lo vivido.
e por isso digo que gostaria de ver com esses meus olhos todos os ângulos que há para ver. com os meus olhos e com o meu corpo sentir a sensação que o outro me dá; mas que a sensação venha daquele que possui toda essa sua vida - não daquele que já ouviu falar dela.
e mais que isso, gostaria de conhecer alguém que não se esconde...que se deixa falar com o mundo como fala consigo... que movimenta os braços como movimenta a alma. e que pode ranger os dentes de uma raiva que não se sabe da onde veio...
para que surpreendentemente...se descubra descoberta
Thursday, October 08, 2009
pode ser que sim
pode ser que o seu tamanho, a sua cor...pode ser que a sua música, sua pele, seu sono..pode ser que tudo isso me acompanhe. pode ser que cada musculatura do seu corpo me acompanhe pelo tempo que vai indo e eu vou engolindo...
sua beleza se escreveu em mim.. mais do que as giletes que eu costumava usar.
mas o tempo que me engoliu e que eu pude engolir também, fez que hoje não é mais em você que vive essa beleza.
ela vive no mundo. partiu, se dispersou, se perdeu entre todas essas nano partículas que voam por aí...como uma combustão do seu ser, a sua beleza se desprendeu, se perdeu e hoje não é mais você; mas sim toda e qualquer coisa bonita que vive no mundo...
vive na delicadeza das moças. no lamento dos românticos...vive no choro dos desesperados, no impressionismo de monet...vive na alegria bêbada dos que gritam, nas construções cimentadas, no que restou da transparência dos lagos...sua beleza vive no charme de outros corpos, na tranquilidade do silêncio...sua beleza vive nos meus olhos, no meu corpo... caminha pelas ruas de santiago...pelos canais de veneza...
ela vive nas fotografias em preto e branco...nas multidões chuvosas...vive nas flores, no acordar....
Wednesday, September 23, 2009
o que nos habita
que vontades pulsam que posso considerar livres do social? só se descobre o que é nosso quando se rompe plenamente o externo?
ou não há espetáculo sem espectador?
é tempo de dúvidas
quem sao os que rompem com ela?
o que em nós é preciso aceitar para negá-la? meu instinto freia ao me deperar com essa idéia de moralidade que convive conosco...
mas quem é que sabe os significados de cada sensação dentro de nós?
nenhum conceito pode ser universal. amor, crueldade, traição. qualquer dessas coisas...
que poder foi nos dado para julgar um pensamento cruel...sem saber seu significado para seu pensador?
que poder é esse que transforma em imoral a libertação?
em traição o respeito por si?
até o homícidio é passível de ambiguidade...a morte é ao mesmo tempo o vôo de libertação de quem mata...e a queda de morte de quem morre...
Wednesday, September 16, 2009
onda
mas de repente, no meio da noite, em meio as nossas ocupações, sem ter tempo para fragilidades...a gente se percebe contente outra vez...
porque o mais bonito de mim some no meio das horas? e não essa coisa que me controla e me poda...? céus
Sunday, September 13, 2009
o mesmo
chega em casa, na mesma casa, dos mesmos dias...deita na mesma cama de todas as manhãs, segue o mesmo corredor de todas as noites...avança no escuro já conhecido...que nossos pés decoraram...escova os mesmos dentes com a mesma escova..e mergulha no mesmo cheiro de todas as tardes, se fecha no mesmo canto de todas as horas...
e senta,escreve, procurar por qualquer coisa que não nos dê o tom da monotonia, do mesmo.
e deita, rola, pensa, sonha e escreve todas essas vontades que a gente escreve tão em segredo...
todas essas vontades de mudar de casa, de esquina, de bairro; mudar de corpo, de alma -não , de alma não.
mas essas vontades de ter um dia, por dia, que não se repitam as esquinas...que o sono venha como nunca veio antes...que não deitemos na cama - mas que nos deitem nela. que os lençóis tenham cheiro de amora, ou figo...qualquer dessas frutas de época que invadem a minha sacada com seu cheiro só em alguns dias do ano. não sei...qualquer pasta de dente que não tenha o mesmo gosto dos nossos dentes de todos os dias...
e a gente senta, escreve, chora, rola ,deita, some, puxa e engole tudo isso quando os nossos pensamentos nos devoram
e tudo que queriamos era que o mundo nos devorasse. de boca aberta, gritando
Friday, September 11, 2009
é inevitável que a chuva chova, que o vento seque...inevitável que nos encontremos, que seja sempre hoje, que nossas formas se desfaçam, que nossos pensamentos nos engulam...
é inevitável que o sol volte...que a neve seque...que as folhas sejam sempre verdes...
Tuesday, August 25, 2009
o que
ainda que o saiba, ainda que o sinta
é que por enquanto eu ainda vivo essa coisa de ser o que eu quiser ser...
e ser poeta me alivia também. as coisas passam a parecer menos exatas
mais humanas
Friday, August 21, 2009
espero por inspiração.. )
enquanto isso...
dia de muito mau humor. mas as coisas tem se esclarecido..
cada dia que passa espero ser menos moralista e racional..e essas sensações terríveis que me ocorrem quando me sinto coagida talvez não sejam nada mais que o minha curiosa e previsível necessidade de controlar a vida...e mais ou menos como funciona como o medo...quando não se pode controlar seus atos, as pessoas tendem a controlar a vida...haha..uma atitude bem pretensiosa e provavelmente inconsciente...
dia desses, eu me percebi numa situação tão inesperada que não conseguia sequer suspirar. ainda que eu quisesse muito - e só descobri isso hoje. mas parece que vem um nó e me maltrata. eu só expiro. e interrogo.
tô tentando me livrar disso mas eu tenho uma certa dificuldade...e tenho pensado e repensado numa coisa... preciso me ultrapassar...cada vez mais...cada dia mais...cada hora mais...
Wednesday, August 19, 2009
que se cale
tão duplas, tão sós
dizem sempre a mesma coisa
sobre versos, nós,
de como o vento voa
para quem esquece
eu pretendia dizer numa única nota
num som só de tão somente
um "sim" que sussurrasse seus significados
em diversas línguas
inversas ou não...
por infindas etnias,
por toda a humanidade,
povoada de diferentes tons
pardos
vermelhos
um sim que unisse todas as palavras
para amanhecer o dia
e que dissessem o que ninguém disse
um cálice às negações
um cálice tão silencioso que dorme
tudo que se nomeia
e nessas palavras que todos os poetas repetem
decor em cor
eu sumo
porque desfaleço ao perceber
que as palavras me comeram
e o poema que faria de ti
fiz pr'aquilo que não te pode ser:
as palavras.
o não dito pelo já dito
eu te escrevi para entender
que só no silêncio
uma nota que ainda não descobri
podia musicar-te
Monday, August 17, 2009
la edad del cielo
que una gota de luz,
una estrella fugaz,
una chispa, tan sólo,
en la edad del cielo.
No somos lo
que quisiéramos ser,
solo un breve latir
en un silencio antiguo
con la edad del cielo.
Calma,
todo está en calma,
deja que el beso dure,
deja que el tiempo cure,
deja que el alma
tenga la misma edad
que la edad del cielo....
No somos más
que un puñado de mar,
una broma de Dios,
un capricho del Sol
del jardín del cielo
No damos pie
entre tanto tic tac,
entre tanto Big Bang,
sólo un grano de sal
en el mar del cielo...
Tuesday, August 11, 2009
versus
é a que hoje amo
mas isso não significa nada:
enquanto sinto não há significados
não há sentido
só sentidos.
escolho um momento
do que sei
para escrever
nada me vem a cabeça
meu pensamento se adianta:
antes do sol nascer
meu pensamento já o pariu
e assim, o que sinto quando o sol nasce
nada mais é do que o que meu pensamento não pôde alcançar.
eu sinto o que resta -
o inalcançável
meu pensamento sustenta até mesmo o que já foi
e já não é:
passei por uma noite bonita
e meus sentidos por lá suspiraram
passou, a manhã veio,
entardeceu,
dias passaram
e meu pensamento ainda pode levantar aquela noite
e me fazer suspirar
um dia escreverei
o que penso sobre o dia que passa
e em seguida escreverei
o que sinto, sobre o mesmo dia
que ainda passa
não sei em qual atingirei os céus
mas sei que as ruas se tingirão
opostas
e confusa, me pergunto:
quem,
além do meu pensamento
poderia descobrir meus sentidos
- tão encobertos -
ainda que gritem
ainda que vivam?
olho para a casa ao lado
para entender o que digo
ou desordenar a mesma linha
(ainda não concluí o que espero de mim -
mas espero não concluir nunca
nada
sobre esse tudo que sou)
o reflexo me para.
Fernando Pessoa
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já.
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
Monday, August 10, 2009
quando
os amigos mudam. os amores voam. a gente se ultrapassa. amar o que? eu não amo os laços. eu não crio amor a longo prazo.
não sustento uma relação com o argumento de que essa relação existe há um tempo.
eu não amo o passado, não me relaciono com ele. eu não amo o que criei: amo o que crio, a todo o momento:e sustentá-lo deve significar mais do que apenas mantê-lo.
o passado mora em mim, faz parte de mim, mas isso não significa que ele faça sentido. eu sou feita dele, mas ele não precisa me ser, necessariamente.
me renovo de novo e algumas coisas acabam por perder o sentido.
ainda que existam, ainda que vivam, não batem. não andam. não crescem. não morreram mas já dormiram na lembrança.
e eu já não posso amar apenas por já ter amado...ou admirar por já ter admirado.
finalmente, me dou a possibilidade de me desprender de tudo e de mim. do que já fui para me tornar o que sou. minha entrega é agora.
meus sentidos respiram o dia em que acordo. isso é tudo - por hoje, que é sempre
Thursday, August 06, 2009
um canto em um dia quente
as arvores soam seu movimento como quem dança
são leves
não pesam
as esquinas formam as possibilidades de pedra e cor
olho a rua como quem pode prever escolhas
mas o caminho do alfalto nos leva apenas ao fim dele mesmo:
esgota-se
e de gota em gota
o sol chove
de fim a fim
os canais suspeitam
do verde que os cobre
e quando as folhas dançam
a água dança também
(e assim assino me lembrando que o fim é só um ponto de vista)
um girassol da cor do seu cabelo
A terra azul da cor de seu vestido
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo?
Se eu cantar, não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?
Sol girassol verde vento solar
Você ainda quer dançar comigo?
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo
Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem...ou será que é tarde demais?
O meu pensamento tem a cor do seu vestido
Ou um girassol que tem a cor do seu cabelo
Sunday, August 02, 2009
os românticos supõe
Supõe
"Supõe que já cruzamos pela vida
Mas nos deixamos sempre para trás
Porque eu andava sempre na avenida
E tu corrias pelas transversais
Supõe que num comício colorido
A praça, enfim, vai nos conciliar
Supõe que somos do mesmo partido
Supõe a praça a se inflamar
Bandeiras soltas pelo ar
E tu começas a cantar
Supõe que eu vibro, comovida
E supõe que eu sou tua canção (...)
Supõe que sem pensar nos abraçamos
Supõe que tudo está como previmos
É a primeira vez que nos amamos
Supõe que falas sem parar
Supõe que o tempo vem e vai
Supõe que és sempre original
Supõe que nós não nos despimos
E supõe que eu sou tua canção"
dúvida
nossa alma usa nosso corpo para deixar-se tocar,
e o que ela grita o corpo sussurra
e no sussurro daquele, encontramos o grito.
tão sozinhos ainda que completos
nos acometemos no infinito de um lago ensolarado
entregamos nossos dedos e nossa saliva
entregamos nosso chão
ansiosos para nos salvar da estrada da dúvida
do que seremos nós
para então acometer-se no lago do que ouvimos falar
e descobrir quanto podemos ser
entregamos nossas rotas
nosso passado
todos os passos que demos
todas as chuvas que secamos
para afogar-se no óbvio do presente:
nos entregamos ao que nos habita
calado
supõe então que nos jogamos para concretizar o infinito,
para saber quanto dura o sempre
qual é a dureza das horas.
tão completos, pensando não saber o sabor do sol
em qual felicidade o tempo dobra
e a lua corre
pulamos
mas podemos nós nos entregar à sensação de vôo mais vezes ao mesmo tempo?
sem dividir-se
sem partir - (se)
haverá naquilo que vivemos toda a nossa totalidade?
voz
Estou confusa entre o racional e o sentimental. Penso qual é o limite de cada um. Não penso mais.
(...) Logo volto e consigo ver as tantas diferentes posturas que podemos adquirir durante os momentos que nos consomem. Como minha coluna se endireita diferente quando penso. Como meu corpo amolece e quase cai quando estou sentindo. São passos tão opostos...
Mas penso que não me movimento muito enquanto penso. O pensar me dá uma perspectiva do real um pouco mais árida, detalhada, fria, calculada. Minha boca seca assim como meus movimentos. Estou árida também.
Eu sinto tão pouco que nem me lembro de como é quando sinto. Sei da moleza. Da vulnerabilidade. Mas é difícil desconstruir a minha racionalidade. Estou atada a ela com os pulsos livres. (não os sinto)
Mas sei que meus olhos são mais doces enquanto sensível;
Quando penso meus olhos comem. Sugam todos os outros olhares, movimentos, rastros, restos e todas as entrelinhas: tudo se come- tudo se traga.
Meus olhos doces não se alimentam. Eles sentem o vento, vêem a beleza: isso basta.
Minha confusão me confude. Tudo me remete a uma questão moral que me contorna e me segue. Estou cega.
O que meus braços farão? Para onde irão meus abraços?
Ouço.
O que ultrapassaríamos se nos guiássemos pelos ouvidos?
Wednesday, July 29, 2009
Tuesday, July 28, 2009
Saturday, July 25, 2009
o limite das palavras
Todas elas acabam por ultrapassar essa condição de me pertencerem... deixam de ser escrita para se tornarem som, assim como deixam de ser minhas para se tornarem suas; ou ainda, deixam de ser o que sinto para se tornarem o que digo...
As palavras dançam a minha volta e vêm contornar outros desejos.
Elas me lançam, me mordem, me rodam e me destroem, se deitam e se coçam... - mas o que digo me ultrapassa e de repente não sou mais eu.
O que alcanço é então o que as palavras alcançam...e quando soltas de mim, são de quem as podem sentir
Friday, July 24, 2009
nem um nem outro
nem me falta nem se arrisca, nem me chama nem me pisca
nem vê luz nem dá nó, nem é hoje nem vem só
nem se treme nem completa, nem limita nem me alerta
nem vem bem nem vem distante, nem sucinta nem amante
nem triste nem poeta, nem intensa nem inquieta
nem vem toda nem por parte, nem me chega nem reparte
nem ao peito nem ao vento, nem na cama nem se lento
por favor por amor
Thursday, July 23, 2009
tecido de lágrimas
que me arranca o movimento
e contém meu grito
essa suavidade sem amor
paralisada, sem desejo
que anda sem pernas e assovia sem tom
expulsem o que chove e não deixa queimar
para que se teça em mim o que chora
alaga
silencio
porque no acordar do peito, quando a noite cai
a solidão não mata,
mas anda...
anda na corrente dos fios
na suavidade dos que não falam
anda nos candieiros, acesos de luz e só
na alegoria dos que ventam pó
sê tolo e comemora a andança
que a felicidade, fugáz, adormece nos pés sem sono
daqueles que de tanto sonhar
tem nas veias mais nuvens do que sangue...
sê. e canta o que não conheces
para teus sons surpreender
...que ouvir quem sabe, dá sossego à rima mas arrebata o corpo
na solidão que arde
Friday, July 17, 2009
Sunday, July 05, 2009
me aventurando em língua estrangeira
nos cantos das paredes, nas teias de aranha, no verde da grama, nas rodas dos carros: todo e qualquer som da cidade, todas as melancólicas euforias do mundo antecipam o que ensaio dizer...
Mas ainda não me calo - há tempo para isso...
Saturday, July 04, 2009
who
não posso dizer quem sou, porque sou todos a minha volta
Monday, June 29, 2009
parto
bem nao consigo escrever sobre isso...é como se o que escrevesse não fizesse mais parte do que sou a partir do momento que sai de mim...
externar o que penso, hoje, é como retirar-me para o que não sou...partiu, não é mais meu. muito menos eu....
Saturday, June 27, 2009
salive
é horrível estar sozinha depois de tantas semanas....mas o mais intragável mesmo é a espera.
é a espera que me engasga a vida.
Thursday, June 25, 2009
Sartre
Que o que existia agora era eu e minha consciência...nada mais. E essa sensação veio acompanhada de um corajoso sentimento: de que isso duraria para sempre.
O livro é fantástico
Saturday, June 20, 2009
Paco de Lucia, fantástico
como corre la lluvia del cristal
como corre el río hacia la mar....
Thursday, June 18, 2009
arrasta
não se apaixonar é um grande tédio depois dos primeiros meses...
Tuesday, June 16, 2009
para onde vão
Que viagem! Que delírio! Só te mantenho em mim enquanto ouço belos acordes que me lembram o mar - não a ti; mas te mantenho.
É como quando sinto a paisagem: estou tão nela que me esqueço de onde sentei; estou protegida.
Me habitas. Vais nascendo como nasce do mar, o sol. Estou sóbria hoje.
Ouço a música: é o que devo fazer para manter-te viva e me deixar cambalear... Na paisagem em que acordo, te penso. Nas janelas sem luz, te encontro. Quando a música acaba tenho que me esforçar para lembrar-te. Ouvindo-a não preciso: tenho-te.
Mas o silêncio me traz alguns retalhos (...) não me lembro muito, mas tento preservar a imagem dos seus olhos me olhando fundo, muito fundo, num sentido que presumo não poder definir. Algo entre...não sei. Queria acreditar em algo entre encanto e hesitação, mas isso sou eu quem diz, não teus olhos; e ao dizê-lo, minha memória dá lugar ao desejo.
Penso em esquecê-los...não. Seria cruel demais mover teus olhos da memória ao esquecimento - mesmo que tudo já se misture entre si... Tudo que nasceu de ti, em mim, assim que te percebi falar, se difundiu entre memória e desejo; entre esquecimento e pretensão...Não sei bem o que restou, mas sei que de memória, não muito...
Monday, June 15, 2009
tabacaria
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim?
Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri, ~
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Tuesday, June 09, 2009
5º dia
tudo me parece sem sentido algum: as piadas que ouço, de certa forma, me deixam impaciente. a voz da professor ecoa na sala. estou seriamente fechada. me sinto atrasada. na vida.
ouço meu colega comentar sobre como será seu futuro. só isso lhe importa. é como se, ao tornar-se profissional, tornar-se-ia vivo. homem. pulsante. o agora é simplesmente o preparo.
sinto uma bolha de ar na garganta. começou hoje, quando, ao ouvir uma reação infantil das meninas que sentam ao fundo da sala, pensei (na tentativa de fugir do enjôo), que já havia sido assim. mas não havia. percebi que passei a usar meu passado para justificar aquilo que não suporto. como se, por já tê-lo feito, permito aos outros a possibilidade de fazê-lo.
estou sozinha. sinto que assim prefiro ficar. é um tipo de autismo social: não me entretém a idéia de vida integrada. não por onde tenho andando...na verdade, algumas coisas ainda me deixam feliz. algumas pessoas. mas não dura muito estar com elas...e tudo volta ao normal.
uma coisa tem me agradado...mas logo racionalizo e percebo que sou eu que acabo me agradando, porque, de certo, não resta muito de uma pessoa depois que a fundimos com tudo que pretedendemos dela. logo, ela torna-se não cada vez mais o que é, mas cada vez mais o que queremos que seja. é a reitificação de que tudo não existe plenamente; existe como se quer que exista. há apenas alguns critérios necessários.
me encanta na verdade, a idéia de conhecer àquilo que existe senão fora de mim. que não precisa de mim para existir, que não fala para mim:
mas que fala comigo como fala consigo.
http://www.idelberavelar.com/archives/2009/06/urgente_policia_de_jose_serra_espancando_e_bombardeando_estudantes_na_usp.php
Professor, sou o Thiago, leitor do sr. e estudante da USP. Como o sr está vendo, a situação lá é caótica. Alunos e professores feridos, o HU está cheio de gente passando mal, e a FFLCH está cercada. Estou no trabalho e aqui metade da net (orkut, twitter, blogspot) é bloqueada. Mas consegui contato com amigos meus que estão na FFLCH.Relato abaixo o que ouvi de um amigo:
"A manifestação estava pacifica (dentro do possivel) com todos se dirigindo para a reitoria onde ocorreria a assembléia geral. De repente a galera se encontrou com uma viatura policial e começou a gritar (ainda pacificamente) 'fora pm do campus'. De repente uma menina tentou se aproximar dos pms pra entregar flores pra eles e eles, os pms, se revoltaram e espancaram a garota. Daí todo mundo foi pra cima deles (claro) e eles chamaram reforço. Dai a confusão começou, porque o reforço chegou atirando balas de borracha e bomba de gás. Sem dó. O pessoal tentou se refugiar na FFLCH com barricadas. A PM sitiou a faculdade, ninguém entra ninguém sai. Continuam a jogar bombas sem parar"
4º dia
é o que sempre penso quando alguma coisa, pr'além do que posso supor, me acomete em uma boa sensação. "estaria eu, prestes a me acometer no infinito?" (Ana C. Cesar)
agradeço como num tipo de salvação. que me confirma que há muito mais vida pr'além do que posso supor...
3º dia
Penso em mobilizações - mas logo desisto. Presumo um fracasso. Me parece um assunto muito longo - e o tempo, como tudo que é atual, está fragmentado.
Não há tempo para falar disso. Não há gente para falar disso. Não há pessoas com tempo e não há tempo para as pessoas...
Saturday, June 06, 2009
primeiro cigarro do dia
percebo a lâmpada que, guardada pelo vidro do lustre,
alastra por todo o teto e paredes do meu quarto
um amarelo também sozinho, escorrido
não me olho temendo estranhar-me
e numa paisagem moderada e inquieta
me encontro tão aberta que me fecho
Monday, June 01, 2009
passarinho
depois de demorados anos, ainda que poucos,
longos dias e curtas certezas
hoje afirmei, certa de mim mais do que certa do mundo
que não facilitei a ameaça que hoje me ilumina...
vivo e espero viver mais pelo tempo que, escorrendo, flutua
mas ainda me paralisa diantes dos meus encontros.
depois que o dia dorme
amanheço seguinte, estampada de sol, suor, sem samba ou lágrimas
estampada do meu rosto amanhecido
nada mais
Friday, May 29, 2009
seacret
like a pearl dancing in the ocean
or a fish singing in a shark's mouth
i dont know how green turns into blue
cause in the green i fall sleep...
i dont ever heard the jazz of your body
and sang none of your sounds
but i can write your hopes
your words
your photos
just like your secrets
even when i cant know the diamands you ride in your signs
even when i cant see the maps of your eyes
and when i read
all of my songs, all of my mind
(with sorrow in my eyes
and in my ears)
i realize that all that i wanna know about you
about you inside of me
is now just what i wanna know about me
even when i cant know the diamands you ride in your signs
even when i cant see the maps of your eyes
Thursday, May 28, 2009
tempo para mais
final do mes me dá uma melancolia..começo a ouvir ceumar e me parece que as coisas estão cada vez mais sem harmonia..e que isso não vai passar...
como se fosse esse um estado de melancolia que eu carrego há tanto tempo que quase se tornou permanente, onde a felicidade aparece vez-em-quando, para passear entre os caminhos alagados entre uma e outra lágrima, que caíram ao longo dos dias...
tristeza não tem fim
felicidade sim
queria voltar no tempo em que p mim era o contrário
Wednesday, May 27, 2009
Clarice
Sunday, May 24, 2009
baixo baixinho
que não rimam
negam-me um soneto
mas gosto de pensar,
com o que resta de manhã
da madrugada que bebi
que se não houvesse
tempo para a calma
talvez os ventos te cantassem
os cruzamentos não fechassem
os pássaros dormissem
nas nuvens brancas em voltas do sol
talvez o dia caísse
sob um sol que talvez se pôsse
talvez os filmes emudecessem
as músicas dissonassem
meus travesseiros sonhassem
o que não ouso sonhar...
talvez o dia se deramasse
sob meus quadros que talvez sussurrassem
e então pode ser que meus livros me contassem
que como quem flutua sob as nuvens
apelo à minha embriaguez, já de manhã
para dizer que não sei te escrever em versos
ainda que o queira, ainda que o faça
Thursday, May 21, 2009
canção do exilio
quando eu não podava e substituia palavras...quando não analisava - por falta de saber faze-lo - todos os detalhes e sinais antes de tomar uma decisão. quem diria que num dia inseguro eu leria o personare - e adoraria!
saudade de quando não tinha nem metade da maturidade que eu tenho - o que me economizava fazer pequenas concessões e escolhas, deixando muito espaço pra coisas bobas se tornarem bem importantes...
hoje sinto que tenho que fazer muito mais escolhas no dia-a-dia...o que falar, pra onde ir, como dizer, se dizer, o que comer, o que cursar, o que estudar, o que substituir, o que usar, o que comprar, o que evitar, o que reinvindicar, o que devo, o que não devo, o que podar, o que criticar, o que mudar, ir ou nao ir, pra onde viajar, como traçar, onde achar, o que esquecer, o que soa bem, o que me faz bem, no que trabalhar, pra quê trabalhar, escolher, escolher, escolher...
me parece que as coisas antigamente fluíam com mais naturalidade...hoje tudo empaca
porque penso muito mais
ainda que pareça não andar
Sei de todas as teorias que envolvem meu ego e minhas limitações, bem como tudo aquilo que não tem freio nem nunca terá.. Mas isso de andar sem sair do lugar foi a maneira mais disfarçada que encontrei de saber e fingir não saber; querer mesmo sem querer.
(Porque sei o que nego e porque lhe nego enquanto lhe digo que sim)
Mudo o ângulo e a luneta, mudo o prisma e o contorno e vejo que ainda se repetem, a minha frente, as mesmas negações, os mesmos caminhos; repetem-se os calos, as tralhas; repetem-se gostos e os traços.
E ao ver a vida repetir-se, também repito-me - ainda que nova. Repito-me, ainda que outra. Repito-me até tornar o que me passa pela segunda, terceira, décima vez...recente...
Recente por repetir-se agora diante de outra face. De outros olhos. Recente porque se ilumina de um sol outrora se punha e dormia
o que não faltava
mesmo que não me leve a lugar algum, que me faça andar
...para frente
Wednesday, May 20, 2009
fahrenheit 451
Já nao tenho a passada necessidade de escrever diretamente ao papel. Hoje já me dou bem com esse pequeno teclado preto...
Ainda que acredite cada vez mais na veia que me direciona para a crítica, não para a literatura - escrita entre tantos substativos abstratos, adjetivos metafóricos, advérbios de intensidade; onde eu, quando tento compôr poesias ou prosas, acabo por untar todos os ideais românticos realistas barrocos e modernos numa só construção -... sei admirar cada característica dos seus movimentos; inclusive o atual, que no Brasil é quase nulo.
Tenho pensado, assim como escrevo - numa linguagem simples e clara (taí a razão para minha não-veia-literária) - no que acontecerão aos livros... No futuro de tudo aquilo que não é virtual ou visível aos olhos.
Enxergo a invasão tecnológica mais ou menos como a revolução industrial, onde se perdeu a qualidade do que é manual, substituídos por máquinas que tornavam suas mãos inúteis senão para apertar botões e coisa e tal. Assim como enxergo nessa, também imposições a novas formas de pensar, agir, de relacionar espaço-tempo, etc...
Na verdade, indagando sobre o futuro da literatura, vejo o cinema, por exemplo, como seu grande inimigo. Não por ver o cinema com o intuito de aniquilá-la, mas por consequência do contexto histórico atual. Dessa forma, pesa um fardo enorme nas obras cinematográficas: carregar toda a dimensão literária em filmes que tendem a ser cada vez mais curtos e objetivos.
Hoje não é mais necessário esperar 300 páginas para saber o que acontecerá no desfecho da história - mas apenas algumas horas.
Lamento pensar na grande responsabilidade do cinema de promover na sua arte a subjetividade dos livros, os seus objetos adjetivados, suas metáforas, hipérboles e comparações. Poucos, raros, são os diretores que conseguem transmitir numa obra cinematográfica ideais de movimentos culturais, como David Lynch, que conseguiu admiravelmente passar de forma bem visível o surrealismo para sua obra. Admiro-o, ainda que seus filmes não me agradem os olhos.
Mas como substituir uma arte em outra arte? Não avisto ou sequer almejo uma possibilidade.
Não leio tanto como minha mãe, que não sei se posso afirmar ler menos que a sua, mas suspeito que a proxima geração que espero assistir - ou não -, não lerá tanto como a minha. Por isso, sei que o hábito de fazê-lo, assim como o de pensar e criticar, são marcados por contextos históricos. No contexto histórico atual não há maiores reinvindicações, interesses culturais ou uma curiosidade aguçada, por ser uma geração que não compartilha desses ideais na sua formação.
Mesmo sem ver isso ao olhar pros lados, tenho uma esperança naquilo que não vejo, porque ainda pouco conheci: de que a geração que me acompanha, ainda que não tenha compartilhado de um momento social favorável para adquirir o hábito da leitura, da indagação, das críticas e do pensamento racional de uma maneira geral, possa sim tentar mudar esse contexto, e como consequência retomar hábitos que me parecem insubstituíveis, como os livros...De 90 pra cá não é nem possível dimensionar a crescente invasão de informações sofrida, o que foi sem dúvida a grande causa de toda essa perda de interesses culturais, que se alastram para a ala literária...
Tuesday, May 19, 2009
quantas poesias cabem no alfabeto?
quando acordo, não falo
a noite, não toco
se durmo, não ouço
e o tempo fica em branco
que escrevo em caneta preta
Tuesday, May 12, 2009
Monday, May 11, 2009
ana lúcia modesto
“O que se observa hoje é que o Estado e Sociedade Civil esperam da Escola não a formação do homem-cidadão, plenamente desenvolvido como agente político e produto-produtor da cultura, mas sim a produção do profissional eficiente, o ser economicamente viável. O Sistema Educacional é diariamente pressionado a adequar ao currículo escolar às necessidades do mercado de trabalho. Se, no antigo regime, o aprendizado de uma profissão estava a cargo das Corporações de Ofício, cabendo aa escola a formação geral, hoje todo ensino é, de certa maneira, profissionalizante, na medida em que para o indivíduo freqüentar a Escola se justifica apenas como um pré-requisito para a entrada no mercado de trabalho. O conhecimento e a cultura, nada tem valor, se não está diretamente articulado à produção. Tudo que excede a esta necessidade deve ser retirado do currículo escolar”.
Thursday, May 07, 2009
quietude
faz mais ou menos 3 horas que tô de frente pro computador e enquanto escrevo fico analisando a estética do que escrevo enquanto penso no que escrever.. até que passo a idéia de negá-la para o papel. negar a beleza no que escrevo, por que não há uma belíssima inspiração...
na verdade, escrevo pra reclamar:
não queria ter que me render a esse silêncio que sinfonicamente me assopra. sento aqui para trocar as palavras que não ouço e não digo - preciso começar a treinar isso de falar sozinha -...
mas é que aqui em casa tudo é meio assim, silencioso..e eu, louca pra dizer, sentir, falar, tocar, torcer, discutir, instigar, invadir, acentuar, ouvir, compreender; tenho que me sujeitar ao silêncio dos corredores e das paredes, o silêncio dos móveis e dos lustres, até que este se rompa com as caixas de som que cantam os novos baianos...
então percebo que o silêncio das paredes, do chão; o silêncio que entra pelas janelas, que mora na tv e no rádio que emudeço, que mora nos espelhos - o silêncio que passa por debaixo da porta e parece não partir; não parte por que o mundo dorme, silencioso.
silêncio nas ladeiras, nos planaltos. silêncio nas plantações e nas escolas. silêncio nas indústrias e nos quartos. silêncio nos tribunais. não se ouvem vozes interrompidas, incompletas, vozes que se estranham, comemoram. não se ouve o dia ao acordar, o folhear dos livros, não se ouve o choro ou o riso, não se ouve sequer o silêncio, de tão silenciado..
mas se ouve aquele que espera
eu nunca soube bem como terminar um texto..queria conseguir deixar a sensação de que não tem fim, por que tudo que digo continua sendo dito ainda que não se fale mais nisso...
Wednesday, May 06, 2009
Tuesday, May 05, 2009
Friday, May 01, 2009
Wednesday, April 29, 2009
trecho aos que não enxergam o que veem
escrevo, então, ainda que não leias. ainda que tenhas uma grande e indelicada alma, onde não lês a brandura dos braços que abro e que comemoram - comemoram a sutileza do que não se sabe; um não-saber tão sensível que palpável. e ao passo que escrevo, intento dizer-te, dizer-lhe, dizer-vos, dizer-lhes o que não enxergam. o que olham, distraídos, desfocados.
os fracos deslizes invisíveis e indizíveis a olho nu, os grandes descompassos, as voltas, as idas, as memórias: não se enxerga a grandeza d'alma. e aos que escrevo, deslizo, descompasso tão inerte que quase me esqueço. escrevo indo, escrevo o que volta, escrevo o que hoje é tão cheio de passado...o que não se pode lançar.
escrevo ainda que convicta, ainda que tensa, ainda que fraca, ainda que solta, ainda que mágica, ainda que viva, ainda que caia; escrevo por que não leem-me os olhos - leem o que digo; escrevo porque não gravito onde pertenço, e preenchida de mim, escondo a intensa parte de quem vive.
escrevo para pousar o signo da leveza que hoje em mim se integra. pouso e me codifico em pequenas palavras e versos calejados. codifico o que não se ouve
Saturday, April 25, 2009
de tempos
da tinta, do corpo
já quase sem cantar, parei de citar vírgulas
e de vivê-las parei também
agora dei para terminar o interminável
pular a linha
findar a frase
a noite
o sono
o tempo vem passando numa tolerância intragável
num conforto curioso
sem dor ou riso
me encontro cada vez mais em tudo que desencontro...
negação
mãos
e pernas
e braços
e troncos
e pêlos
e poros
não quero ouvir
não toco
desfoco
não despejo
desejo
passo
suave
onde encontro
passagem
Thursday, April 23, 2009
goteira
sedenta
não me mata a sede
que sacia-se
no gole
que engole
o que suspensa
anseio
retomo então
no verso do gole
que engole a gota
que não corre
escorre
...
a suavidade
Wednesday, April 22, 2009
ruas viadutos e avenidas
Sem resposta, você nada diz, nada faz, assim como eu, que não faço idéia do que, aos meus 17 anos, posso fazer além de me lamentar em linhas que mal escrevo, por que não costumo escrever sobre isso - assim como todos nós, todos que nessa imensidão calam diante da fraqueza do nosso governo, da miséria que nos assola, que cala diante dos impostos, do comodismo, da retribuição que se eleva a zero, e senta então, sorrindo em frente as cores da tv brasileira.
Mas eu venho e lhe digo que os outros porcento, estes que estudam em escolas privadas como eu, que vêem - ou não - seus pais a pagar tantos impostos, esses que não destroem na escola ou na vida nenhum de seus preconceitos, ou sequer descem do patamar que lhes colocaram, de classe média, classe média alta, esses que não saciam sua sede; absorvem apenas a alienação - alienação tamanha possível nessas escolas tão intríscecas ao capitalismo que são então parte dele; que personificam em suas instituições um sistema que engole as necessidades intelectuais dos que o podem pagar, ou então o mais: cobram por uma alienação quase explícita e, caso haja, ainda, o desprezo por esse ensino, paga-se: e ao pagar tem-se a libertação da obrigatoriedade de formação intectual. paga-se e não se pensa. paga-se e aprova-se o que não pensa. ainda, paga-se e forma-se. forma-se o alienado, o pobre mais pobre que empobrece todo o nosso país: o que não pensa, o que não age, não indaga, não sustenta.
Friday, April 17, 2009
se perdendo por aí
todo esse tempo que acumulo e guardo
nos dias que não ardo...
...se meu toque não cumprisse a pena
de todos os outros toques que me tocaram
...se meus olhos tivessem a leveza ingênua
para prantear o que desamam
na doçura do que não se sabe
se
se
se
vejo no seu tom meu mais famoso som
vejo na sua estrela o que prometi emudecer
e quase desejo não ter existido
para não ter o que esquecer
mas...
existo
e hoje, da ponta leste
longe do cume e do chão
admiro e entristeço meus olhos no silêncio desse tempo
que não é mais meu
e que desafino na marcha que marcho
me encontro, então
admirada,
na repetição do respiro
que expiro
sem inspirar
é uma pena...
mas não sei viver do ser que já fui
vivido
supõe
quero descobrir o que há pr'além do que alcançam meus braços, meus olhos, meus laços, meus passos - que caminham tão distraidamente dentro das minhas quase intermináveis exigências e expectativas...
Wednesday, April 15, 2009
eu escrevo pra dar esperança pro que não tem conserto. escrevo pra enchargar o que é seco. escrevo pra metaforizar todos os ocos da vida e fazer do oco mais oco, o vazio mais bonito dos que se enchem.
eu escrevo pra metaforizar todos os meus sentidos e não-sentidos. todos os meus suspiros e todos as minhas respirações, simples e óbvias.
eu escrevo pra racionalizar. escrevo pra entender. escrevo enquanto ainda existem perguntas sem resposta.
mas hoje...hoje não escrevo. não escrevo porque não racionalizo. não entendo. não pergunto. não escrevo para transformar. nem indagar.
não metaforizo nada porque não há metáfora mais delicadada do que todas as inspirações que não venho tendo. meu coração quase cheio do que não escrevo seria perfeito pra qualquer construção literária se eu já não me sentisse dentro dela.
tenho tido dias lindos, acordes sutis, acordares preguiçosos, tons cianos, pensamentos macios, gosto colorido, um vazio lotado de infinito...
mas ainda assim não pretendo um poema, uma crônica; não pretendo a prosa, sonetos perfeitos, versos decassílabos, um texto sem ponto e sem vírgula que tire o fôlego. não pretendo afundar minhas palavras nas rimas mais bonitas que posso escrever...
as palavras moram comigo, moram em mim, flutuam em mim e eu venho nadando não nelas - mas em todas as suas relações. como se essas palavras que guardo e que toco se confundissem e formassem prosas tão lindas, mas tão lindas que não preciso escrevê-las. estou nelas.
a banalidade que se vive quando se vive assim, deixa qualquer banalidade incrivelmente misteriosa...
Friday, April 10, 2009
ultimo dia
nessa construção de uns anos e poucos - nem tantos, mas tantos para o que posso contar -, eu me apaixonei muito. me apaixonei pelas mais bonitas, as mais velhas, as mais inteligentes. eu me apaixonei por profissões incríveis, pensamentos impressionantes, vidas alucinadas, amores violentos; infinitos sorrisos e infinitas línguas, infinito intelecto e infinita beleza. infinita beleza...
o resto era resto. eu descolava bons versos e colava na testa. fácil e sutil, logo já achava que eu era a personagem das composições do chico. e haja amor pra viver composições do chico.
hoje, chico nao me traduz. neruda não me traduz. até vinicius não me traduz. o que é pensado não mostra linguagem. hoje não me pergunto sua idade, quem sao seus bons colegas, o seu passado, seus filmes preferidos, seu melhores cds, não me pergunto o que você pensa da áfrica, o que você faz p ganhar a vida, seus sonhos, seus méritos. não me interessa seu lugar. "nao me interessa saber da onde é e como veio parar aqui", quero sentir tudo isso. quero tocar o silêncio. quero descobrir novos passos. não quero saber. não quero pensar. quero sentir como sinto a música que toca o que essas cores passeiam. quero tanto que não quero nada
sinto tanto que não sei como sinto
ainda que sinta cada vez mais
nao sei se sei de tudo isso - mas é bonito
Thursday, April 09, 2009
...
hoje sinto o incrivel paradoxo do que arde sem se ver...que nunca tinha me ocorrido antes. tenho medo
medo por que abro. e se abro, entra; e se entra, cresce; e se cresce, toma; e se toma, arrasa; e se arrasa, estremece; e se estremece, conheço; e se anseio a possibilidade de estremecer, conhecer o que desconheço...medo. medo no frio que desenho e ando. e quando ando alguma coisa em mim voa...e ao voar me pergunto: voa pra onde?
Wednesday, April 08, 2009
Sunday, April 05, 2009
Saturday, April 04, 2009
butterflies and hurricanes
um pensamento que me tranca a garganta
me ata em nós quase tão frios como quando conheci o mar
e uma curiosa sensação que me abre cem vôos de borboletas
...
pensamento vem de fora
e sensação vem de dentro?
por que assim que soa no vento a vazia possibilidade
de desatarem-me os nósl,
de tão vazia, me ato de novo
e mais borboletas desmaiam
...
é como se para sentir-te
tivesse que pensar-te
e pensar-te me tranca e me sujeita
ou como se para pensar-te
tivesse de sentir-te
e sentir-te me toma e encanta
se parto ou se nasço...
Thursday, April 02, 2009
se apaixona quando descobre o cheiro, se descobre o gosto. quando seu coro e sua sorte é tão admirável quanto o samba de vinicius. ou mais
a paixão permenece enquanto descobrimos novos cantos. novos cantos naquilo que não velamos, desejamos. desejamos por que ainda não velamos. enxergamos seus encantos, antes de abordar e abortar as vértices que derramarão lágrimas. lágrimas de quem não se apaixona pelo inesperado. só pelo que espera e quer. e quer mais - e só - suaves notas de violão.
seguimos cheios e entornados num gosto meio macio, meio azul ciano, indelicado de tão delicado....começamos a chamar-nos pelo som.
"que seus passos me estendam ao passo que estendem minh'alma - tão tímida. "
até que paramos o som e começamos a amar o mistério de não haver mistério algum. agora descobre-se a dois. anda-se a dois. sem extensão, mas estendidos, amamos.
ama-se o som da repetição.
e a repetição de todos os novos sons
Monday, March 30, 2009
Aimé Césaire
Friday, March 27, 2009
today is gonna be the day
hoje, consigo andar com as minhas pernas e quase sambar um samba que nunca dominei. sinto hoje que minhas mãos estão muito mais quentes e meus pés muito mais frios. chego em casa e tranco a porta. não penso em deixá-la aberta por tentar a possibilidade de receber qualquer outro cheiro que não o do vento.
hoje a grama da praia foi cortada e parece que minhas janelas mantêm esse cheiro como mantenho em mim um céu azul e um pedaço do mundo. suspiro
Wednesday, March 25, 2009
hora extra
fico pensando em mil maneiras de afirmar e entender a cultura numa perspectiva macro da sociedade..cada dia me apaixono mais com a possibilidade de trabalhar com isso e mudar alguma coisa...com a possibilidade de mudar todas essas estratégias de comunicação e manipulação pr'uma mudança de olhares e sentidos. não eu, como o meu trabalho, simplesmente. mas eu como parte de todo o elenco que roda essa roda viva.
fico pensando em como fazer tantos olhos enxergarem o que não enxergam...e eu acredito. meu pulso é humano demais pra não acreditar que - mesmo tendo que lidar com toda a hipocrisia que paira nessa alegoria em que vivemos - sou parte sim do gênero humano e as coisas podem sim mudar. queria gritar, como disse Sartre que sinto, ainda, a esperança como minha concepção do futuro...e sinto mesmo.
Tuesday, March 24, 2009
prenez de vous
quero a beleza que não é bonita todo o dia...
Monday, March 23, 2009
sem título
não demoro a dizer: dedico-me a descobrir minhas vontades sem ensaiá-las.
tiro de mim o nó que me ata como desatam-se os nós de uma âncora...
simple things
Seems like we've opened up the door
Feels like we've walked this way before
Natuarally we blew Simple things you say
Everyday you'll find the way
It amazes
Everyday...
simple things, zero 7. linda essa música...
Friday, March 20, 2009
e por isso me despeço do que já me despedi há muito tempo com um poema, também do neruda, que diz o que quis dizer e hoje digo:
Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.
Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.
Fui teu, foste minha. O que mais?
Juntos fizemos uma curva na rota por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.
Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços.
Não sei para onde vou....
Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.
Thursday, March 19, 2009
I want something worth to die for to make it beautiful TO LIVE
no outono passado eu parafraseava alanis cantando ironic. its like thousand spoons when all you need is a nife. eu sofria um pouco...essa história da vida virar a mesa quando tudo dá certo, ou dar um jeito quando tudo tá errado quase me doía - mas eu sou humanista demais pra crer mais na força do acaso do que na humanidade. pra crer nisso mais do que em mim, no que me envolve.
amanhã começa o outono e a vida não tem sido irônica. mas talvez eu tenha. não sei dessa plenitude que me invade e não me dá objetivo que force a desorientação. e é isso que pulsa em mim: o que me desorienta.
escapo das minhas aulas com pensamentos em rascunhos afim de me desorientar. mas é tudo vago demais.
queria poder acordar com a luz do sol e saber se quero ou não. saber o que quero, o que não quero. se meu querer precisa mesmo de esforço, se minhas palavras precisam mesmo silenciar-se, sentir a espera até enviá-las, se preciso mesmo desse tamanho pensar. e chego a conclusão que não. que não preciso pensar, esforçar ou até mesmo ausentar minhas palavras. murchá-las, reduzi-las, esvazia-las. mas não sei sentir. não sei sentir, somente - sentir por sentir; sentir sem tragar com a fumaça do cigarro todos os meus lamentos e minhas euforias enquanto escrevo.
e escrever, pra mim, é pensar. não é sentir. é pensar o que se sente. ou até sentir o que se pensa. mas nunca sentir, somente. quem só sente não deve se sentir só, como eu. esse sentir invade e toma e engole e atormenta. o que me atormenta é pensar no que sinto. atordoar-me enquanto percebo o que sinto. e se resolvo, hoje, um dia antes do outono começar e minhas lamentações mudarem de ventos, que quero só sentir, apenas - sentir como se sente sem pensar o vento que venta -. não penso. mas se vivo do pensar...desnorteio-me.
Friday, March 13, 2009
carpe diem
todos os dias desisto e todos os dias volto. todos os dias levanto e todos os dias sento. deletei meu orkut pra dizer pra mim mesma que internet é perda de tempo se fico aqui por mais de uma hora...
e de tanto pensar as mesmas coisas, me intrigar com as mesmas dúvidas, duvidar dos mesmos silêncios, descobrir o que não me importa, eu sento de novo e abro a caixa de texto desse blog pra tentar fazer de tudo isso poesia. ou desabafo. pra enfrentar essa rotina repetida e sem graça com um pouco mais de vontade. e esqueço que minha vontade não vem daqui.
Thursday, March 12, 2009
Tuesday, March 10, 2009
paradeiro
Monday, March 09, 2009
back
na verdade, voltei a me emocionar com o que sei fazer de mim...e até com o que não sei fazer.
Sunday, March 08, 2009
Friday, March 06, 2009
torno
quero para que queiras
quero conversar mas não sei dizer
se quero ou se quero que saibas
não falo mas digo
que não sei de nada que me contorna
...entornando tudo que quero
vês sem enxergar
o que silencio
goteira
espero que apareça, assim, de cima, dos lados, dos cantos, rasteira, que apareça um raio ou um sorriso, uma tormenta, o sal, o mel, o gosto, qualquer gosto, um amanhecer ou salgado ou tosco, mas que seja mais do que o sol invandindo-me pelas frestas do quarto, coçando meus poros para amanhecer-me.
que seja algo que se possa sentir. de dentro pra fora, pq não há nada aqui dentro além da espera....um gota. uma gota seca ou alagada. que pulsa. que vive. sou formada de milhões de gotas e me sinto deslizadamente enfadonha. uma gota do que explode. do que musica. do que incendeia ou destrói. que poetiza...uma gota do que se move.
é-me possível, então, estar sozinha. desde que seja a espera de alguém. que me tome e me engula.
Wednesday, March 04, 2009
repeteco
hoje. hoje era um bom dia... se eu fosse falar exatamente o que quero dizer, eu diria sem criar um contexto. eu não criaria um contexto pra poder dizer que você até tem potencial. nada extraordinário, excepcional. nem nada ruim. nada que se possa desprezar. na verdade, usaria uma palavra que roubei de um silêncio meu meiado a um contexto seu: insoso. eu diria que isso tudo é insoso, mas tem potencial. eu diria também que eu não me apaixono assim, devagar. mas desde que te conheci eu tenho levado em consideração quando leio que ir devagar é melhor do que ficar parado. e no meu caso, é mesmo. eu tenho estado muito parada... depois eu continuaria dizendo que as coisas andam muito devagar pr'eu me apaixonar, mas desde que te conheci eu deixo minha porta aberta quando chego em casa por pensar na possibilidade de sair pra te ver. ou de te ver entrar...e eu vinha trancando a porta há muito tempo. por saber e por sentir essa certeza latente de que eu não saíria...que ninguém entraria. então eu te contaria que hoje eu tranquei a porta e depois destranquei. e que isso significa que a minha vontade de levar pr'além, de levar pr'algum lugar esse seu potencial - e meu também -, é quase maior que a minha vontade de ficar sozinha. que é tão latente quanto tudo que eu preciso estudar... depois eu diria que o guilherme arantes cantando um dia, um adeus, não combina em nada com essa caixa de texto que vem sendo preenchida. diria que não há nada de melancólico entre nós além da minha solidão quente de tão fria... eu festejaria sobre o que aconteceu hoje na minha aula, mesmo que pra mim - só pra mim.. por medo de achar que falar de mim é muito desinteressante perto das suas histórias...e te confessaria que quando você olha pra longe e pra todo o resto, que não sou eu, isso renasce em mim minuto a minuto. e aí sim eu te diria que não quero nada de você além de querer. querer, apenas. querer pq eu nao quero há muito tempo. que quero sentir pq eu nao sinto há muito tempo. que quero que você me faça rir pq nao rio há muito tempo. por fim, te contaria, com um peso muito pesado de tão aliviado, que nao é que te quero pq nao te tenho há muito tempo - mas que te quero pq não quero há muito tempo...
O grande sofisma
Anibal Machado
Tuesday, March 03, 2009
dont
eu sou subjetiva demais pra escrever num blog
só queria dizer que essa minha tentativa de controle sob o que me faz pulsar é, no fundo, um controle de quanto latejo e grito...
ainda não tá claro...
eu não sei o quanto posso sentir. pq eu nao sinto, simplesmente. eu tenho que encontrar segurança pra sentir...e procuro segurança no que enrede o que me faz pulsar. uma foto, uma frase, uma música. mas isso não basta e eu continuo sem controle...girando sem controle...até que paro de girar enquanto não controlo meu pulso e meus limites
Monday, March 02, 2009
no dia seguinte eu tento escapar de quão estimulante é fazer isso, e não consigo. no final das contas, eu me surpreendo com a incapacidade de demonstrar que sinto. sinto essa coisa que desde então passou a viver comigo, sentida de novo e de novo....
é como se meu corpo, a medida que me lembro, adormecesse como adormeceu a noite, e assim as pernas, o troco, e quase adormeço toda como adormeceu o dia que lembro e sinto...
Thursday, February 26, 2009
um email à uma amiga
under control
eu tenho fotografias.
mas e quando a distância física ou temporal deu um jeito de criar um abismo entre dois corpos? ou mais. mais corpos, três, quatro, sete, dez...
a gente continua andando. andando como a scarlet continua andando no final de encontros e desencontros. e eu nem tô falando de amor...
Wednesday, February 18, 2009
John Donne
Monday, February 16, 2009
otimizo o espaço até calhar num canto escuro e agudo e sinto então que posso escrever. posso escrever essas palavras guardadas no meu bolso da calça, essas palavras que não cantam, não suspiram qualquer sentimento que não essa verdade azul e imensa que mora em mim, essa quietação que não quero mais, que não consigo mais. essa calma tão calma que me cala e me mora. me habita e me assola. me invade e permanece, tão serena e sutil que minhas pernas se tornam secas e firmes, como minhas pernas nunca foram, essas pernas tão bambas e desastradas de inspiração e invasão.
nasceu em mim a calma que nenhuma tormenta tomou. eu procuro então os maiores olhos, escuros e brilhantes para poder cambalear. mas nao acontece. deito na cama em busca do convencimento de que posso enfim suspirar e adormeço. adormeço como adormece uma criança e esqueço, então, de engolir qualquer coisa que me cause a sensação de amor ou espanto, alegria ou pranto..
nao inspiro o lamento de acordar e dormir sozinha, ou quiçá a solidão dos dias brancos, mas lamento sentir-me coagida a tragar 20 cigarros por dia pra sentir alguma coisa de encontro as minhas visceras, meu corpo, de encontro a mim. lamento saber tão pouco cuidar e habitar essa calma azul que mora comigo como ela me cuida e habita. mas escrevo. e lamento então o meu vasto e vazio corpo, sem suspiros ou arrepios, sem ira ou dúvida. e como escrever o vazio?
(
sutilmente vagamente facilmente docemente realmente no cotidiano das almas que não dormem, encontro o mais sutil dos desencontros: eu
)
e suar teu colo
enganar teu beijo
desfalecer teus lábios
sorrir teus olhos
mudar teus lados
escrevo por que quero um dia
por dia
tremular teus ossos
desenhar seu rosto
comover teus passos
instigar teu tato
transbordar teus poros
e quero em notas
as noites
de beijar teus cantos
cantar teus traços
dormir teu corpo
fitar teu sono
corar te
decorar te
10/02/08
descobri poesia em pastas esquecidas do meu computador...
vez em quando tento procurar respostas em perguntas cósmicas ou tão distantes de mim como essas. como quando procuro definir essa luz que cega e apaga em mim com a inspiração de quem ainda a tem. o que restou em mim não sei, não sei ao certo lamentar minha respiração, mas lamento a ausência do suspiro. lamento que não viva em mim uma fúria enorme, que não venha a mim a maré em dias de ressaca e que me trague inteira para me levar s cigarros que engulo e adoeço enquanto trago deles o que não trago de mim.
lamento minhas mãos tão firmes e minha espinha tão seca. lamento meus olhos, tão sem pulso quando as paredes do quarto...acordo e desejo todos os dias que pulse. que essa vida e esses dias cinzentes pulsem como pulsavam. espero minha inspiração tão aflita quanto um dia de chuva, que alguma coisa responda essas coisas que eu pergunto sem saber o que são nem por que são. eu só desejo que sejam..sejam alguma coisa, qualquer coisa, essa coisa feia e tosca, ou que venha a beleza em seu desajeitado balanço e que caia sobre mim, enfim, com a força de um tornado...
Friday, February 13, 2009
satelites
que se espaçam e flutuam
na passarela do tempo
hoje ouvi tão bem
uma voz dissonante que desfila
desfila e marcha
e caminha
um corpo que nao insinua
tao pouco cheio de curvas
tocado por assobios
de passarinhos,
enquanto mãos tão sem cor
deslizavam o ruivo entardecer
na palma.
um sorriso seco e gritante, ouve-se
que suave se põe e levanta
nu
um corpo, em suma, não tão belo
assim como nem mãos, pés, sorriso ou olhos
nada belo como nada belo é o nu
mas nu como é nu o belo
Thursday, February 12, 2009
se
se caibo onde não há espaço
se convoco o que nao tem nome
se assobio o que nao tem som
se canto o que nao se fala
se falo o que nao se ouve
se ouço o que nao me dizem
se digo o que nao se cala
se calo o que nao se toca
se toco o que nao se sente
se sinto o que não se pode
se posso o que nao se move
se movo o que nao se pode
se posso o que nao se sabe
sei o que não me cabe
Tuesday, February 03, 2009
true
mas apesar de tantos espinhos, pesos, tantas feridas e táticas e esquecimentos, bem assim como tantas viagens no meu quarto, na sala, depois de tantos sorrisos que eu não dei, depois de tanto me enfiar no mais fundo buraco pra não me fazer encontrável, vem isso, essa qualquer coisa, essa voz, isso...isso vem e te vê bonita. te vê assim, tão bonita, sem saber de todos os espinhos, todas as feridas, todo o peso, toda a escuridão que se apossoou de mim nesse poço e diz, assim, sem saber de nada nem querer saber muito que tem luz nesse poço. que ele me viu da fresta, assim rachada que tem no canto dessa coisa que eu passei a viver. e eu assim cambaleando, assim fraca, assim frágil, assim tosca, assim baixa, assim tão desamada...sorri
III
II
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos quenos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos"
meus trechos poemas e textos preferidos...
E na face de alguns, risos sutis cheios de reserva
Muitos se reunirão em lugares desertos
E falarão em voz baixa em novos possíveis milagres
Como se o milagre tivesse realmente se realizado
Muitos sentirão alegria
Porque deles é o primeiro milagre
Muitos sentirão inveja
E darão o óbolo do fariseu com ares humildes
Muitos não compreenderão
Porque suas inteligências vão somente até os processos
E já existem nos processos tantas dificuldades…
Alguns verão e julgarão com a alma
Outros verão e julgarão com a alma que eles não têm
Ouvirão apenas dizer…
Será belo e será ridículo
Haverá quem mude como os ventos
E haverá quem permaneça na pureza dos rochedos.
No meio de todos eu ouvirei calado e atento, comovido e risonho
Escutando verdades e mentiras
Mas não dizendo nada.
Só a alegria de alguns compreenderem bastará
Porque tudo aconteceu para que eles compreendessem
Que as águas mais turvas contêm às vezes as pérolas mais belas."
Vinicius