Thursday, November 30, 2006

renda-se ao desespero.

todo o dia adormece em mim um devaneio de conseguir ficar.
e depois de alguns copos do meu próprio veneno adormece em mim o seu gosto amargo...e enquanto durmo sopra em minhas costas o credo de ir e estar.
não que eu saiba ao acordar o significado de ir e estar no meu caminho diário até onde meus pés me guiam, mas o sopro em minhas costas me traz o credo, apenas um credo, o qual todos os dias faz minhas pernas correrem e estagnarem.
nunca soube muito bem como lidar com as visitas na sala enquanto é adormecido em mim o devaneio de conseguiria ficar, mas meus braços ao menos conseguem ser suficientemente largos para abraçar o que for. mesmo que no final da noite sejam suficientemente largos apenas para virar meus copos de todas as noites e abraçar-me a mim e só... meus copos de veneno sempre foram transbordados com meus devaneios em querer despir o mais coberto dos presentes...

Wednesday, November 29, 2006

arnaldo antunes fala por mim. socorro.

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo,
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada,
Me empreste suas penas
Já não sinto amor nem dor,
Já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração,
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena,
Qualquer coisa,
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido,
Em qualquer cruzamento,
Acostamento,
Encruzilhada,
Socorro, eu já não sinto nada
Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo,
Nem vontade de chorar
Nem de rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada,
Me empreste suas penas
Já não sinto amor nem dor,
Já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração,
Que esse já não bate nem apanha,
Por favor, uma emoção pequena,
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos , deve ter
Algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva

Friday, November 24, 2006

contradição

sinto pra comover.

Wednesday, November 22, 2006

azedo.

O caminho de voltas e mais voltas - passando pelo balanço na cor de limão que, azedo, experimentei a alguns dias atrás quando ainda desconhecia esse caminho um tanto quanto desconcertante por conta das suas pontas arrendondadas que levam sempre ao centro, ou me roda em suas extremidades -, subitamente me levantou ao eco que não escutava a tempos. Subi, subi sem ao menos cansar minhas pernas nos degraus da escada que me levantou por conta da sua própria força. E o eco que ouvi era tão conhecido como o limão. Até mais íntimo. Me senti tocada nos segredos que sempre gritei e que hoje guardo em minhas mãos atadas a velha calça que não uso mais, e nas mãos de quem já havia experimentado o gosto azedo comigo nos bons tempos que ainda usava aquela calça.
Olhei lá de cima e vi que o eco era tão ensurdecedor que teria que descer toda aquela escadaria de novo, mas receava ser com as minhas próprias pernas, e que chegasse cansada e com o gosto azedo do limão em minha boca lá embaixo quando visse novamente aquele balanço. Ou então teria que subir mais ainda, e como eu não sei, por que a vista da linha em que me encontrava era a que me parecia a mais alta, mesmo sabendo que acima de mim voavam alguns pensamentos que teria que pegar.
Continuo namorando a escada pra saber se devo me render a aura da mesma que me chama para baixo. Ou se subo, e subo.
quais são as barreiras que impedem as pessoas...
de alcançarem, minimamente, o seu verdadeiro potencial?
a resposta a isso pode ser encontrada
em outra pergunta, que é...
qual é a característica humana
mais universal?
o medo...
ou a preguiça?

Saturday, November 18, 2006

uma semente ou uma árvore já crescida e com frutos quer sair de mim. um novo parto precisa ser agendado para os próximos dias, ou para as próximas horas. a dilatação não é a do meu corpo, de alguma parte em específico, e sim da minha dor.

sei que precisas ser plantado fora de mim, ou colhido pelo chão que não me baseia. e enquanto isso, nessa espera em que tudo gira em linhas tortas, nada me pode ser tocado. nem tocar. não pela sensibilidade que agora é aguçada, mas o contrário. por ora, sou áspera. mesmo que o toque não use do tato, seria arranhado e arranharia. não só seu destinário ou remetente, mas o próprio toque.
sei que queres partir de mim e estás confabulando sua fuga ou agendando sua data de partida. seu expresso pedirá minha ajuda - sei que virei seu meio de transporte e comunicação - , mesmo que apenas se comunique comigo mesma.
agora que precisas ser plantado, ou colhido, por favor saia, eu te levo, mas não o suporto por muito tempo mais. e vá, não quero arranhá-lo com a minha aspereza como tudo que será arranhado enquantos planas em mim.


no meio do caminho tinha uma pedra. tinha uma pedra no meio do caminho....

Monday, November 13, 2006

palavras vazias utilizadas para espantar o vento que, por ora, é o único som na porta da frente

Alguns erguem suas mãos, sem distinguir seu apelo por socorro ou perdão. E se molham sem saber proteger. Se queimam sem saber aliviar, se jogam por não saber ficar, desconhecendo sua volta na busca pela tarefa interrompida - que há de voltar não só por força do desnorteio, mas também pela busca de seu combustível para chegar até o verdadeiro ponto de partida-.
E enquanto isso fogem e se desesperam no ensaio da caminhada, e descompassam os passos que estavam em sintonia com todo o contexto da paisagem, e esses continuam caminhando de dia como se fosse de noite.
E dentre o silêncio tão ensurdecedor dessa noite ridiculamente sem sentido, as mãos cálidas da própria noite se erguem e suplicam pelo perdão de tê-la aproximado...

Thursday, November 09, 2006

não quero fazer poesia
não quero dissertar
nem rimar
não quero embriagar
não quero saber
nem desaprender
não quero desviar
não quero seguir
não quero desfilar
no ar
não quero fincar
não quero tirar os pés do chão
só no colchão
não quero contradizer
só dizer
com o riso esticado
ando com o corpo puxado
planando na ferida
fugindo da partida
fincada do avesso
continuo desviando do começo

Monday, November 06, 2006

Rule number 2
Don't be a fool
Rule number 3
Get up off your knees
Rule number 4
Open the door
Rule number 5
Keep it alive
Rule number 6
Don't be a wicks
And rule number 8
Don't leave it too late
Rule number 9
Just take your time
Rule number 1
Carpé diem...

Saturday, November 04, 2006

esmagando o céu do chão

Alguns risos que riem do espiral que se formou me enchem de mim, e a sede que o espiral espirra me esvazia alguns instantes após os risos avassaladores.
Claro que estamos sempre todos propensos a mergulhar no mais azul do azul, ainda mais vendo algum vermelho em quem já mergulhou. Que caiamos, que aproveitemos o azul enquanto é azul, mas que saibamos, nós, que as asas que me deram foram feitas para serem, além de abrigo, asas. Na sua literal emissão e significado.
Mesmo que os pés se cansem de bater e os braços de remar, que eles não se confundam nas linhas tortas e pouco promissoras do espiral. Ainda mais quando têm o dever de voar. O vermelho se alastraria e o espiral clamaria cada vez mais pelo azul...espirrando até se ver sem ar.

Desculpem pelas palavras, todas as palavras. Desde as mais sem significado até as que não tiveram precaução da consequência que trariam se fosse emitidas, desculpem o espiral que não deveria nada mais brilhar do que o seu preto pouco brilhante. Desculpem as inconsequentes fugas das nuvens em que deveria sobrevoar. Desculpem o pouco frio em mim, descupem o muito frio em momentos sinuosos, os muitos laços, os muitos deslaços, a complementação que vi onde não deve haver nada mais que algum cobertor em traços um pouco mais delicados.
Desculpem-me coração, mente, corpo, alma...

Wednesday, November 01, 2006

decolagem

os gritos de mulheres e o choro das crianças
as pernas das moças, o caminhar dos moços
o canto dos passáros, os latidos dos cães
os gemidos na noite fria, o bocejo nas manhãs


nada disso

é o simples sentido do real sentir
superior a isso
cortando as asas durante um vôo sem termo
eterno

sensação de dívida externa