Thursday, February 26, 2009

um email à uma amiga

Descobri que minhas borboletas respondem a certos estimulos na vida que já sei decor e salteado e que, o único motivo pelo qual insisto em manter-me perto de quem não me traz sensações tão sutis e intensas quanto uma lembrança boa, é que sei - e me sinto bem por saber assim, dessa desajeitada maneira - que há no mundo tantos encantos que minhas borboletas não conhecem...como se elas vivessem aqui, nesse oco cheio de amor que sou eu, e não soubessem apaixonar-se por nada além do que pude mostrar. e o que mostrei foi o que conheci. logo, como podem elas, alçar um vôo desajeitado e apaixonado por algo que não vêem encanto? e não encantam-se pq nunca sequer viram antes. já essas todas, todas essas, esses passos e esses perfumes que se parecem tanto entre si, que já passaram pela minha vida e por esse oco de amor que sou eu, são tão conhecidas como o caminho dos pássaros na primavera. e então minhas borboletas alçam vôo como as folhas caem na primavera. religiosamente. eu quero mostrar a mim e ao que vive em mim que há encanto por onde não se passa porque não se sabe que há caminho, que há encanto onde não supomos que há. e supomos pq não exergamos mais do que queremos ver. e o que queremos ver é a vírgula nesse espaço que chamamos de pensamento...

under control

às vezes, em casa, fico pensando como a gente se perde. se perde dessas coisas que nos tornam bichos, amáveis, perdidos, loucos, sinuosos. nessas coisas que passam e deixam uma suave lembrança depois de ter rendido dias caóticos ou poéticos. essa gente que a gente encontra de tarde na praça e desencontra no meio de uma noite de sono, como se desencontra daquele sonho que perdemos ao acordar. não sei, me intriga não sentir depois de ter sentido. ter restado um nome, um telefone ou, na maioria das vezes, só a lembrança. por que no final das contas, o que sobra além de lembrança?
eu tenho fotografias.
mas e quando a distância física ou temporal deu um jeito de criar um abismo entre dois corpos? ou mais. mais corpos, três, quatro, sete, dez...
a gente continua andando. andando como a scarlet continua andando no final de encontros e desencontros. e eu nem tô falando de amor...

Wednesday, February 18, 2009

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

John Donne

Monday, February 16, 2009

hoje, nesse deserto de almas em que acordo e adormeço, nesse dia branco e só, tão só como só um dia branco pode ser, eu desejo escrever. anseio conseguir colocar pra fora essa imensidão azul que mora em mim, escrever numa caixa de texto o que nao escrevo mais, o que não inspira ou expira. o que não respiro. hoje quis, dessa maneira tosca e sozinha, escrever sobre essa calma que me assola a alma e que desejo vomitar, parir. essa calma que não me presta nem inspira. e então não presto. não movimento.
otimizo o espaço até calhar num canto escuro e agudo e sinto então que posso escrever. posso escrever essas palavras guardadas no meu bolso da calça, essas palavras que não cantam, não suspiram qualquer sentimento que não essa verdade azul e imensa que mora em mim, essa quietação que não quero mais, que não consigo mais. essa calma tão calma que me cala e me mora. me habita e me assola. me invade e permanece, tão serena e sutil que minhas pernas se tornam secas e firmes, como minhas pernas nunca foram, essas pernas tão bambas e desastradas de inspiração e invasão.
nasceu em mim a calma que nenhuma tormenta tomou. eu procuro então os maiores olhos, escuros e brilhantes para poder cambalear. mas nao acontece. deito na cama em busca do convencimento de que posso enfim suspirar e adormeço. adormeço como adormece uma criança e esqueço, então, de engolir qualquer coisa que me cause a sensação de amor ou espanto, alegria ou pranto..
nao inspiro o lamento de acordar e dormir sozinha, ou quiçá a solidão dos dias brancos, mas lamento sentir-me coagida a tragar 20 cigarros por dia pra sentir alguma coisa de encontro as minhas visceras, meu corpo, de encontro a mim. lamento saber tão pouco cuidar e habitar essa calma azul que mora comigo como ela me cuida e habita. mas escrevo. e lamento então o meu vasto e vazio corpo, sem suspiros ou arrepios, sem ira ou dúvida. e como escrever o vazio?
(



sutilmente vagamente facilmente docemente realmente no cotidiano das almas que não dormem, encontro o mais sutil dos desencontros: eu




)
mas escrevo pra te suspirar

e suar teu colo
enganar teu beijo
desfalecer teus lábios
sorrir teus olhos
mudar teus lados

escrevo por que quero um dia
por dia
tremular teus ossos
desenhar seu rosto
comover teus passos
instigar teu tato
transbordar teus poros

e quero em notas
as noites
de beijar teus cantos
cantar teus traços
dormir teu corpo
fitar teu sono

corar te
decorar te

10/02/08

descobri poesia em pastas esquecidas do meu computador...
eu tenho um monte de palavras nas minhas mãos e não sei o que escrever. não nasce mais em mim a idéia de escrever essa coisa bonita e viva que não vivo mais. não pertenço mais as palavras que me cabem, pertenço sim ao céu azul cinzento que nasce em mim e na semana como a semente de um girassol, e não encontro mais ...
vez em quando tento procurar respostas em perguntas cósmicas ou tão distantes de mim como essas. como quando procuro definir essa luz que cega e apaga em mim com a inspiração de quem ainda a tem. o que restou em mim não sei, não sei ao certo lamentar minha respiração, mas lamento a ausência do suspiro. lamento que não viva em mim uma fúria enorme, que não venha a mim a maré em dias de ressaca e que me trague inteira para me levar s cigarros que engulo e adoeço enquanto trago deles o que não trago de mim.
lamento minhas mãos tão firmes e minha espinha tão seca. lamento meus olhos, tão sem pulso quando as paredes do quarto...acordo e desejo todos os dias que pulse. que essa vida e esses dias cinzentes pulsem como pulsavam. espero minha inspiração tão aflita quanto um dia de chuva, que alguma coisa responda essas coisas que eu pergunto sem saber o que são nem por que são. eu só desejo que sejam..sejam alguma coisa, qualquer coisa, essa coisa feia e tosca, ou que venha a beleza em seu desajeitado balanço e que caia sobre mim, enfim, com a força de um tornado...

Friday, February 13, 2009

satelites

hoje vi passos despassados
que se espaçam e flutuam
na passarela do tempo
hoje ouvi tão bem
uma voz dissonante que desfila
desfila e marcha
e caminha
um corpo que nao insinua
tao pouco cheio de curvas
tocado por assobios
de passarinhos,
enquanto mãos tão sem cor
deslizavam o ruivo entardecer
na palma.
um sorriso seco e gritante, ouve-se
que suave se põe e levanta
nu
um corpo, em suma, não tão belo
assim como nem mãos, pés, sorriso ou olhos
nada belo como nada belo é o nu
mas nu como é nu o belo

Thursday, February 12, 2009

se

se sei o que nao me cabe
se caibo onde não há espaço
se convoco o que nao tem nome
se assobio o que nao tem som
se canto o que nao se fala
se falo o que nao se ouve
se ouço o que nao me dizem
se digo o que nao se cala
se calo o que nao se toca
se toco o que nao se sente
se sinto o que não se pode
se posso o que nao se move
se movo o que nao se pode
se posso o que nao se sabe
sei o que não me cabe

Tuesday, February 03, 2009

true

nunca entendi muito bem essa história de auto destruição até acontecer comigo. se acabar no chão ou na água, com cheiro ou gosto. comecei a me destruir quando decidi abandonar as roupas usadas, que já tinham formato do meu corpo. me destruí quando resolvi que minha fragilidade um dia ficaria tão exposta como o meu desejo..minha destruição começou quando fumei maconha pra sorrir, comi pra sorrir e deixei de lado a coisa que até então me era mais preciosa pra sorrir: o que eu era. deixei de ser o que eu era pra me tornar o que sou. não sou ainda, hoje, nessa manhã amarela e quente. mas o que tenho pra ser. essas coisas que a gente vai descobrindo que é de acordo com os ponteiros dos relógios e dos dias. eu deteriorizei meu intelecto, meu racicionio, meu cabelo, meus passos pra deixar de ser o que eu era. e não fui. fiquei me assistindo desistir nas mais dramáticas águas...chorei
mas apesar de tantos espinhos, pesos, tantas feridas e táticas e esquecimentos, bem assim como tantas viagens no meu quarto, na sala, depois de tantos sorrisos que eu não dei, depois de tanto me enfiar no mais fundo buraco pra não me fazer encontrável, vem isso, essa qualquer coisa, essa voz, isso...isso vem e te vê bonita. te vê assim, tão bonita, sem saber de todos os espinhos, todas as feridas, todo o peso, toda a escuridão que se apossoou de mim nesse poço e diz, assim, sem saber de nada nem querer saber muito que tem luz nesse poço. que ele me viu da fresta, assim rachada que tem no canto dessa coisa que eu passei a viver. e eu assim cambaleando, assim fraca, assim frágil, assim tosca, assim baixa, assim tão desamada...sorri

III

"...Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."

II

"Há um tempo em que é precisoabandonar as roupas usadas
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos quenos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos"

meus trechos poemas e textos preferidos...

"Haverá na face de todos um profundo assombro
E na face de alguns, risos sutis cheios de reserva
Muitos se reunirão em lugares desertos
E falarão em voz baixa em novos possíveis milagres
Como se o milagre tivesse realmente se realizado
Muitos sentirão alegria
Porque deles é o primeiro milagre
Muitos sentirão inveja
E darão o óbolo do fariseu com ares humildes
Muitos não compreenderão
Porque suas inteligências vão somente até os processos
E já existem nos processos tantas dificuldades…
Alguns verão e julgarão com a alma
Outros verão e julgarão com a alma que eles não têm
Ouvirão apenas dizer…
Será belo e será ridículo
Haverá quem mude como os ventos
E haverá quem permaneça na pureza dos rochedos.
No meio de todos eu ouvirei calado e atento, comovido e risonho
Escutando verdades e mentiras
Mas não dizendo nada.
Só a alegria de alguns compreenderem bastará
Porque tudo aconteceu para que eles compreendessem
Que as águas mais turvas contêm às vezes as pérolas mais belas."

Vinicius

Monday, February 02, 2009

meus sentidos calaram
todos
vestidos
sentidos
ventados,
ouvidos
calaram