Monday, December 29, 2008

de uns tempos pra cá tenho deixado o azul ser mais azul do que escuro. treino minha calma com a calma que se adestra um cão. minha passividade é mais ativa do que qualquer atividade que impulsione a mais intensa pulsação. mas eu tenho treinado. tenho treinado como um recalque de tatuagem. pq eu quero que seja definitivo.
antes tapas sacanas do que merecidos...

esquecimento

esquece. a gente esquece. dorme e esquece. fuma e esquece. bebe e esquece. ri e esquece.
no final, esquece o cansaço e a dor que a noite trouxe. acorda e mente dizendo que tem uma vida feliz, por que toma banho e esquece. come e esquece. o dia passa e a gente quase esquece. mas vem a noite de novo e a gente se pergunta como é que dá pra esquecer a permanência da tristeza? aí fuma e esquece. ri e esquece.

Sunday, December 28, 2008

vai passar

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'"

Saturday, December 20, 2008

quase arromba a retina de quem vê...
" Tudo no mundo é estranho e maravilhoso, para pupilas bem abertas..." Ortega y Gasset

Saturday, December 13, 2008

hoje e tempo atrás

antes escrevia prosa, hoje, essas frases com tres palavras mal feitas que cortam-se na intenção de dizer o que quero esconder. influência dos modernistas, quem sabe. mas não importa o que aprendi com eles. não importa o que aprendi com a vida. não importa o que sei sobre o sistema. não importam fatos históricos, a rosa de hiroshima, não importam as mortes que chorei, as que estudei, o respeito que vive comigo pelo mundo e por quem não tem nada além da vida. não importa se aprendi mais divisões, outras equações, não importa se aprendi a amar, se descobri novas paisagens no sexo, se descobri novas janelas nas paisagens, paisagens na janela, janela da alma - não importa. não importa sequer a gramática que mudei, que mudará,o estilo literário que aderi, o gosto pela vida e pelo mundo que é parte de mim. não importa o que é parte de mim. não importa aprender a vomitar essas palavras sem uma subjetividade tosca e perdida. não importa saber relevo, reformas, liberdade, fraternidade e igualdade. não importa aprender a liberdade absoluta. não importa escrever poesias ou romances, ficções ou suspenses. não importam os caminhos e as bifurcações que criei, as viagens, as malas, as falas, não importam minhas músicas preferidas, meu novo som no violão, meu novo perfume, não importa ter o carinho que nunca tive, o amor que nunca tive. não importa que tudo isso seja tão relevante pra mim como as nuvens são o relevo do céu. não importam caminhos novos se ainda não te aprendi. não importam novas armas se continuo morta de amor. não importa sequer o tempo se não existe tempo em nós. se somos só nós que não desatam com o tempo, não importa o tempo. mal importam as cores, os olhos. não importam diamantes se não os dos teus olhos. não importa a cegueira de saramago, sagarana de guimarães rosa, outra globalização de milton santos, não importa o passado de alan pauls ou o nosso. não importam as torturas, não importa sequer a expansão territorial, a movimentação econômica. não importa quanto vale o petróleo, o socialismo. não importam os risos, não importa a vida, os sentidos, nada importa se meu coração bate da mesma maneira. não importa se sei ou se nunca soube. não importa quiçá se um dia saberei. importa que não te sei. que não te ando. e se não te ando, não importa quem sou.

afinal é isso mesmo?

brahma

sóbria. estou sóbria de amor e álcool. emaranhada em lenços de cores e flores
estou sob sol e nuvens
seca de amor e dores
no caminho da tua solidão -
apaixonada solidão

sem passos, intocados passos
passo

descanso a saudade
mas não deito

para ver levantar
vontade
conto as horas e sei que não há...


nossa eternidade mora num sombroso infinito
dissonante
cem dias que são mais deles do que nossos
mais passados do que os pássaros que acordavam-nos na janela do quarto

até que no dia seguinte eu acordo. sóbria. sóbria e tonta. tonta secura - (água e amor), eu durmo. e não sonho...
acordo na sombra e não há luz. estou sóbria de ti...
mas não demoro

Thursday, December 11, 2008

não é por aí

ia dizendo
não é por aí
o caminho mais curto
acaba logo ali,
acaba logo ali
acontece que algum gesto ainda não foi feito
hei, não vá saindo assim desse jeito
pra que pressa?
depois dessa
outra história, outra transa, outra festa
agora é tarde
não está mais aqui quem falhou
ia dizendo, não é por aí

Alice Ruiz

mas eu teria

se tivesse chegado
se tivesse respondido
se eu não tivesse te tirado
eu dançaria

(mas dancei)

se o sol não se deitasse quando você levanta
se eu mandasse um telegrama
se minha poesia não tivesse expirado...

mas ah, se tivesse resposta
eu não tiraria pra dançar
eu te dançaria
eu te falaria
- não sussurraria -
eu te responderia

mas se minha poesia
não aflorasse ontem
eu não te escreveria
e nem saberia
que você não me leu
não me falou
mesmo sabendo que não dançou
só escreveu
e negou

eu queria chamar-te
ou declarar-te
que na tua presença palavras são brutas
mas na verdade não sei se te pergunto
ou se sequer entro
sei que me agrada saber
que não foi ingratidão
foi erro de partida e chegada
- mesmo que uma grata sensação,
mentirosa ou alucinada,
tenha me dito

eu sei que teria que comprar mil páginas de palavras
para saber o que te dizer (e eu compraria)
ou escutar melodias até anoitecer
para saber te cantar (e eu anoiteceria)
ler todas as cartas de sartre e simone de beauvoir
para te saber ouvir
ou só saber (e eu as acharia)

teria de ter mais olhos
para enxergar tua total beleza (e eu os criaria)

teria de dormir mais sonhos
para contigo acordar (e eu durmo)


(mas ainda não acordei)

Wednesday, December 10, 2008

retórica

não demorei um dia para escrever mas demorei algumas horas do dia
sei que uma hora perto de dias parece pouco
mas minhas horas foram muitas perto dos minutos
e do tamanho da caixa de texto

então não tarde a responder
parecerá que não agradei
e não agradar não agrada ninguém
dê uma fingida pra me agradar
ou isso nao te agradaria aquém?
grata ou, na verdade, ingrata por sua ingrata gratidão da não-resposta
assino embaixo
ou em cima
Mariana.

que fita!

não quero choro nem vela
quero uma fita amarela
gravada com o nome dela

da vela
ou da velha?

de lá pra cá

quando estou inspirada pra escrever não leio horóscospos
só leio horóscopos quando não sei de mi
...de sol
...de lá


dá dó

conta gota

chove lá fora
luzes de concreto no amarelo do asfalto
ou luzes amarelas no concreto do asfalto
fogem da poça
ou a poça foge do foco luminoso concretamente amarelo
até que um carro de repente
e divide a poça em mil gotas

eu tenho mil gotas para cada poesia

Klimt

tenho 7 pinturas do klimt em um cubo dividido por alguns blocos
se klimt pôde
em quantas poesias você se dividiria?
poesias por que não sei pintar
nem desenhar

fora

pensamento vem de fora
ou de dentro?

dentro

as caixas do meu som,
meu som de caixas
na caixas de som
o som nas caixas
canta
"reason's for living"
qual é a sua?
a minha é o pensamento

enfim

meus braços caíram - os da cadeira em que me sento
levanto então e descubro que escrevo 200 palavras por minuto
e amanhã não me lembrarei de inspirar-me
por que amanhã acordarei
expirada

genialidade ingenua

não vejo, quando olho pela janela, agora, nada além da ingenuidade do egoísmo
porque egoísmo, é, afinal, a ingenuidade em forma de gênio...

você sabe...

cometi um engano?
comenti vários
estou prester a me acometer no infinito, como ana cristina césar
imersa no fundo da carne
encontro-te
linda e nua
um pouco nervosa
minha velha alma - zeca baleiro cantou
e colho assim
pétala por pétala - chico césar alegrava-se com
a volta do mel que traz sua volta
ao redor do sol
amor,
não sei se não
mas também não tenho certeza que sim - djavan quase certo
dizia que
se...

e antes que amanheça

apaguem suas composições
silenciem suas inquietações
falta-me a falta.
completa de sol e céu
falta-me ausência
sobra-me ausência da ausência de amor
amor não
amor é pouco
falta-me a avassaladora sensação de querer tragar o mundo
sem olhos de ressaca
olhos de demora...
tragar a sorte do encontro
(mesmo que haja tantos desencontros pela vida - eu sei, vinicius)
bebo cerveja pra ficar bêbada de amor

e suas pulsações

só um coração despedaçado ama.
só quando tiram-lhe sua amada e amante tira. a lacuna pulsa sua imensidão perdida
e o que pesa é a ausência.
imploro que me arranquem essa tira que me tira o sossego
para não sossegar sua falta
e perder as noites a lhe procurar
no último vagão

pequena grande tira

meu sorriso amarelo quebrou e minha letra arredondou. uma amiga me tirou o sorriso e levou-o consigo. meu coração permance. inteiro, completo, imploro a tira da sua parte mais bonita - a que ama.

assim assim

Meu desejo é admirável. Admirável é meu desejo.
Quem admiro, desejo. não Lenine, Chico Buarque, Machado de Assis, Caio fernando, Foucault ou meus admiráveis amigos. Desejo admirando. Admiro desejando. Aspiro. Pretendo. E logo caio.
Subo ao cume do mais apaixonado vermelho. Estranho-me, finco admirada o meu mais novo desejo e a minha admirável paixão em entranhas agora apaixonadas. Enrolo-me, desenho-me, absorvo e caio. Caio emaranhada em lençóis, desejo póros tão admiráveis quanto sua desejosa face. Intimido-me, fico íntima dos lençóis e seus cantos. Encanto-me e aspiro. Aspiro e expiro. Expiro - enfadonha dos póros que não mais admiro, mas decoro. Tediosa dos cantos que não mais me encantam, mas que já canto. Caio no chão e levanto-me a admirar o cume mais alto que o cume do mais apaixonado vermelho. E tudo começa outra vez

Tuesday, December 09, 2008

just my imagination

imersa em palavras desbraçadas
passo a passo, passo.
durmo e sonho
acordo e não vejo

Monday, December 08, 2008

amarei teu amor. me amarás com amor

Não encontrarás amor em mim - me encontrarás. Não te apaixonarás por meus beijos - mas por meus lábios. Lábios dessa cor que não tem a cor do amor. Mas a cor de meus lábios. Não pedirás por meus abraços - pedirás meus braços. Esses braços brancos e largos que não são os mais belos, mas ainda assim meus braços. Não enxergarás doçura em meus olhos. Enxergarás meus olhos, simplesmente. Esses olhos que não te fitam, que não te seguem, mas que são meus olhos. Verás o brilho verde que neles nasce e com doçura encantar-te-á segui-los sem pressa.
Não amarás o prazer que meu corpo te dá. Amarás meu corpo. Sem prazer. Só pele, carne, sem cor ou riscos. Amarás meu corpo suado branco ou vermelho liso. Vermelho de sol. Não de amor. Não serei mais amor. Serei eu. E tu o amor.
Terás a cor da paixão, terás amor nos olhos, prazer nos poros. Te vestirás num amoroso branco e eu amarei esse amor que te sai da pele. Tua pele, teu corpo, teus olhos - tu. Tu és amor. Fora e dentro de mim - és o amor que está em mim. És o amor que tenho. Agora amarei-te com esse amor que és, com ternura. Amarei ao ver-te amando-me. Por que é para esse amor que amo. É por esse amor que espero.
Escrever-te é como presentear-me com tua presença. É como a preparação para dar-te flores ou apenas encontrar-te. Escrever-te é encontrar-te. É sentir esse amor que criaste e que és em mim. É grifá-lo, rodá-lo, senti-lo, gritá-lo. É amá-lo. Amar a idéia de que me amarás pr'além do que te dou. Me amarás por quem sou. E eu sou amor. Amor teu.

Sunday, December 07, 2008

vão de teus braços

impiedosos sonhos esfriam-me as entranhas em novos braços
e despertam-me de me ter debruçada na ausência
das vírgulas que viraram
frutos do teu colo
que criei a te procurar
lavrando noites de sono
esgotada de amor
estagnada no tempo que insisti em buscar teus olhos
nas luzes mais escuras
e encontro-me em vôo
ao passo que me paraliso
amanhecida por ombros claros
mais claros que os teus
de olhos que apedrejam e comportam todas as cores
ali vôo e caio com meu par de pernas bambas
tortas
que grifam e desprezam a amorosa certeza que tenho
em amar a destreza de possuir sonhos tão claros
mais claros que teus ombros

Friday, December 05, 2008

depois de rodar sozinha
copos
corpos
vendo tocar no copo, o violão
ouvi teu corpo toar na rosa
espinho travado em minha garganta
às vezes troca meu nome
e some
nas asas da madrugada
como chico escreveu
mas eu desejaria o contrário