Thursday, November 29, 2007

vida a dois

"Dois seres que se amam profundamente não precisam de outras justificações para amar a vida. Bastam-se, não precisam de nada nem de ninguém. O amor autêntico, que pode ser preservado apesar da passagem dos anos, dá à vida todo o sentido, toda a sua razão de ser. Não é a única forma de dar razão à existência, mas pode ser a mais bela razão de viver que existe."

Sunday, November 25, 2007

ópio

Segui até meu quarto. Enquanto acordava pro sono deitei primeiro minha cabeça, seguida dos braços, e enfim as pernas. Meu pensamento se arrastava no nada assim como me arrastei pra chegar ao meu quarto. Continuei me arrastando nos pontos pratas do preto e dormi.
Acordei com meus pés no chão conflitando com os seus, num sapato preto, e reparei meus olhos aquarelando nos seus. Como é bem isso?

Você se aproximou de mim sem mexer um músculo do corpo. Eu esperava uma fusão de corpos mas anatomicamente isso não seria possível.
Aí você desistiu de que a física quântica fizesse alguma coisa por nós e me pegou no braço e me trouxe até seu colo. Me sentou de pernas abertas nas suas pernas quase abertas, numa calça jeans horrível desbotada que eu não conhecia mas sabia que você insistia em usar.
Se você me olhasse mais, a aquarela viraria um oceano e afogada eu estaria. E mesmo que fosse por isso que eu pedia todos os segundos dos meus dias, que fosse por isso que eu pedia quase calada todas as noites da semana, eu tremia. Mas você veio.
Veio e se lançou, veio e se fincou. E aí, eu entrei. Você entrou. Como no Fale Com Ela, do Almodovar. Mais cinza e espiritual pra quem nos fosse filmar. E eu fui vendo tudo em você. De cima abaixo, do meio a cima, de baixo ao meio, da esquerda a direita. Os cabelos, o corpo, o lenço, as mãos, o toque, a voz, e agora então eu estava prester a me deparar com as entranhas, as cordas vocais, o ventre, os ossos, e era tudo você. O que eu queria de você: você
Comecei a ver embaçado
Aí você veio mais e mais, ou eu que entrei mais e mais sem perceber e caí. Caí e de comoção, chorei. Ali eu me refugiei do mundo e só ouvia você, só via você, só sentia você, só tocava você, só contemplava você, só entornava você, só desviava em você, só me deparava com você. E foi então que percebi que talvez eu estivesse dentro de mim.
Seu lábio tocou meu rosto, cerrou meus olhos, sua saliva me tocou como o ópio toca o organismo dos mortais, e você desceu em mim. Sua boca desceu em mim, seus dedos desceram em mim, seus olhos desceram em mim. E cada vez mais eu te deixava entrar, arrombar a porta do meu ser, tocar meu corpo com gestos inimagináveis, penetráveis, tangíveis e sensivelmente delicados; E escancarando-se em mim, sem contemplar, sem recitar, sem ninar, mas escancarando-me pra você, entrando sem a permissão consentida, arrombando as minhas portas que ansiavam por isso, me drogando na sua saliva e me sujeitando a sua carne...
Eu acordei.

Friday, November 23, 2007

valsa

"quero em ti, firme chão
e quero a ti, em asas azuis;
quero te, a flanar cores que diluis
e quero cair em ti em plena escuridão
quero a ti, simples traço
e tua suspensa amplidão
quero em ti solução
e jamais descompasso..."

Thursday, November 22, 2007

a viver

passo- me a vontade de arder meus olhos pra poder cair onde meu corpo caísse...
por que pra todos os lados que olho, eu não olho, e todos os cheiros que sinto, eu não sinto. tudo que ouço, não ouço, e tudo que quero, desquero.

mas ouvi dizer que me deram a vida..não a eternidade...
então?
ensina-me

Tuesday, November 13, 2007

acordes

borboletas não voam no meu estômago
mas me ensinam a voar...

andança

risco fino rasga sem dor..
o papel dos dias
e une vida
aos últimos momentos
risco fino rasga sem dor
o papel da vida
nos dias
dos últimos trechos...

Friday, November 02, 2007

citando cecília, 'é uma coisa ridícula, mas oh, as ridículas coisas são necessárias'. vivi um amor platônico de poucos dias, mas muitas horas...então que meu imaginário vá, ou venha, no caso, por que no fim das contas é ele que resta, né? escrevi...o platônico só rima rimas mesmo...

"...assim como teu corpo, que não é o mais belo
mas que é teu
e envoltará meu corpo no teu corpo
como uma concha a envolver a peróla
a deitar...

as tuas cores que não são únicas
mas tu, que tem cores a entornar-te quando vejo-te sem olhar
vivendo sem me ter lúcida
sem recitar

o que ouves, o que ouves que não é o mais belo
mas acentuo no último verso o que toca em ti
que é o que toca em mim pra ti
e o que te toco é o belo
por ser teu
e por fim toco-te
sem nem ao menos cantar..."