Wednesday, October 15, 2008

meu mundo sem mim

não me dói saber que não encontrarei, além dela, alguém com tanta beleza num só traço
mas me dói saber que o mundo, sem ela, não tem traço nenhum de beleza e carinho.
que ele será pior sem suas mãos para carregá-lo, aconchegar-me e tocá-lo ao passo que me toca...
mas vejo hoje, o que só posso ver sem ela: que o mundo é de arestas, cheio de arestas que cortam e desfiam. só hoje posso ver, mas passo dias numa cegueira proposital. e mesmo assim sinto traços confusos, sem beleza, sem caminho, sinto essas arestas desfiando o que me veste, e desejo-me nua. quase desconhecendo meus passos, meus braços, meus abraços desfiando-se se me despisse...
hoje consigo ver, e vejo por que hoje estou sozinha. e estar sozinha é muito amplo. enxergo mais, sinto mais, me dôo mais. mas estou mais. menos em mim, por que estar sozinha em mim, é mais amplo do que estar sozinha no mundo. mas estou. quase mergulho nessa terrível piscina de ferozes agulhas, nesse preto e branco infinito, nesses acordes dissonantes que são a melodia do mundo. ou a minha?
nesse mergulho já não sei mais onde estou.
não sei se sou eu o mundo esse grande círculo de arestas coloridas, traçadas em preto e branco. não sei mais se sou eu ou o mundo que dói, que chora, ou até mesmo se sou eu quem vê o mundo, ou o mundo que anda me vendo...

Tuesday, October 14, 2008

"Quero lhe implorar para que seja paciente com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar. As perguntas são como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira. Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora.Talvez assim, você, gradualmente, sem perceber, viverá a resposta num dia distante."

Tuesday, October 07, 2008

roll

não pretendo que me obedeçam
nem que me gostem
ou quem sabe me digam
me contem

que me escondam
que me fujam
areia e pessoas pelas mãos

que me guardem
que me cubram
em sedas vermelhas ou quem sabe folhas de guardanapo
folhas de palmeiras
me soltem
não me ouçam
não riam

não pretendo nada...
além de que pretendo vida

A vida
seja lá o que seja ela
vamos a ela...
vamos ao banquete ou à miséria
vamos à batalha, ao sangue
vamos ao cubos ou cubistas

vamos republicanos ou democratas
vamos à correr ou a varar
vamos à rolar ou ralar
vamos sozinhos ou encobertos
vamos...

republica velha

tudo isso atrás de mim...
essas datas
essas folhas
todas esses dizeres parafraseados
essas meninas
essas colagens
essa vaidade
foi quando eu governava o mundo.

agora é o mundo quem me governa...
ou no fundo, ninguém governa nada...

Sunday, October 05, 2008

aflordapele

tenho espinhos em mãos
e pregando-me em flor
como bicho apego à pele
flores

abro-me a mão direita
e aliviando pesares
entorno ao vento, a primavera...

fecho-me a mão esquerda
e tardando o outono em céu, floreio
enquanto espeto-me em melancolia

abro-me então a mão esquerda
voa-me a primavera em ventos de outono, espetando, lúcida,
o sol
fecho-me em uma mão
escrevendo em sangue as flores de abril...

abro-me
fecho-me
até que então

desabrocho