Wednesday, August 30, 2006

meia lua inteira

É.

São constantes as coisas que tenho pra contar em meio dessas linhas, entrelinhas, metáforas e outras cositas más.
Sinto-me regrendido. Voltei a buscar o que a tempos não pensava em buscar. Voltei também a (quase) beber de águas passadas, as quais não deviam mais mover moinhos. Será a água iludibriando-me os olhos para enxergá-los se movendo, ou eles realmente estão? Ai, que confusão.
Minha meticulosidade voltou a aguçar. E ando me preocupando com problemas que não são problemas. O que serão?
Acredito que futuramente estarei triste por não estar triste.
Ah, estou de rodeada de incertezas. Aliás, estou rodeada de muita coisa que não faz meu gosto. Como as expulso de mim? É tão simples não é? ando tornando complexo o simples, acreditando que vou me desgastar com qualquer coisinha.
Ah! esqueci de comentar, uma forte correnteza passada passou novamente no caminho dos moinhos. E não os moveu. Será que ela ia pela contra-mão?
Estou completa e vazia ao mesmo tempo. Como uma meia lua inteira. Inteirinha, sem nenhuma falha. Mas ainda assim, uma meia lua.

Saturday, August 26, 2006

volto a lhe escrever, maria

Resolvi voltar a lhe escrever em menos de uma semana, Maria.Espero não ser um incomodo, espero que minhas palavras não cansem seus olhos.
Ando com preguiça de viver, Maria. Uma preguiça de ter que alongar as pernas e braços quando penso em pensar. Quando acordo pra viver. Ou quando ainda não acordei...Puro ócio.
Não é a monotonia do lugar em que me encaixo, é a monotonia de viver literalmente. Pessoas nunca me cansaram, pelo contrário, elas me impulsionaram sempre a fazer qualquer coisa a qualquer momento. E hoje estou indo dormir tão preguiçosa delas...A vida anda me deixando mole, Maria.
Acordo com sono, adormeço no banho, sonho no almoço, me edifico em outro plano enquanto estou no cinema, acordo com o por-do-sol e cambaleio de sono quando a noite vem. Não tenho tempo de viver. Por opção. A preguiça me dominou. As vozes parecem canções de ninar, adormeço antes de ouvir as primeiras palavras. E ler então, Maria? Essas palavras que escrevo agora estão tão embaçadas. E não, não são meus olhos. Aliás, são eles sim, mas não os olhos em si. Mas a minha visão de que as coisas perderam o contraste. Perderam a clareza. Mas não, não perderam o sentido. Eu tenho sentido ainda, Maria?
Sentido de entendimento, significação, intenção, eu digo. Eu ainda tenho, Maria? Sentido de sentir eu tenho sentido pouco. Alguns vestigios quem sabe de qualquer boa lembrança de voltas rápidas de roda gigante que a vida me deu. Ando metaforica, não é? Isso não deveria ser bom.
Maria, não ando com preguiça de lhe escrever. Me sinto como se escrevesse pra mim. E é, não é mesmo?
Ah Maria...Ando repetindo seu nome tantas vezes, e nem sei quem você é. Ando repetindo tantas coisas tantas vezes, e nem sei o que são.
Ontem ouvi que alguém era capaz de roubar a essência de outra pessoa. Essa preguiça será o acarretamento do furto da minha essência? Ou será que essa carta, junto com a preguiça, estão embriagados na minha essência? A primeira opção me confunde. Ninguém me fortalece tanto a ponto de fazê-lo. Acho que minha essencia é quem está embriagada. Embriagada dentre tantos, tantas...entre outros fragmentos de essencia que me apoderei. Fiz mal, Maria? Foi errado? Pra onde foram esses fragmentos? Não os encontro na minha essencia. Talvez por preguiça de procurar.
Olha Maria, lhe direi. Quero cantar. Cantar mesmo. Quero correr de bicicleta com a música no último volume enquanto o vento bate na minha cara. Quero tomar água de coco. Quero correr atrás da bola de futebol que sempre me acompanhou. Quero parar com a fumaça saindo da minha boca, e entrando nos meus pulmões. Quero sonhar. Quero lembrar dos meus sonhos. Quero fotografar. Quero rimar. Quero pular no mar. Fazer guerra de comida. Quero tomar sorvete. Quero gargalhar. Quero ver. Quero ouvir. Quero dormir.
Vamos dormir, Maria? A noite já veio faz tempo. O meu sono também. Passei reto pela rede amarela em que sempre deitei e nem liguei. Preciso arrumar minha cama. Meu armário, minha estante. Preciso me arrumar. Preciso de conserto.

Wednesday, August 23, 2006

carta

Querida Maria,

Lhe escrevo pra tentar discernir dentro de mim todas as coisas boas e ruins que me aconteceram ultimamente. e pra explicar o que não é possível ser explicado.explicar como todo esse mundo se tornou pequeno, de acordo com as emoções e comoções pequenas que me rodeiam - logo nessa infinitude.

A vida anda sendo descrita no vento que bate no rosto, com fragmentos de cheiros e cores de pessoas que tem o peso de um pequeno mundo. o seu mundo. tenho medo de estar caindo num abismo que não tenha rumo de queda, que não me leve pro alto. o que deveria fazer pra poder ir acima da infinitude que não vejo? poder pular de lá de cima e cair em braços desconhecidos, ter o peso do vento. aquele vento, que é contido fragmentos de cheiros e cores, fragmentos de mundos. seriam eles pesados demais pra serem sustentados?e quem sustentaria? os braços se partiriam no meio, mesmo que milhões deles, por que são fracos diante da visão de infinitude que carregariam.

Ando sem sono, mas querendo sonhar. ando sem comoções, mas me apaixonando. e me apaixonando pelo nada, pelo nada que via como tudo. o nada que me levava aquele alto. e quando me deparei a baixo, olhei pra cima e ele não estava mais lá. quem sabe fosse abaixo de mim, abaixo do chão que pisava...um engano.

Minhas cartas já enviadas se tornaram nada, o destinário havia sido um engano, uma ilusão de qualquer coisa acima de mim. antes nao tivessem rumo, como o abismo que receava cair. elas ficariam pra mim. seriam guardadas e mandadas pra corda de palavras e rimas que faria pra laçar aquela estrela e subir pra olhar a infinitude que somos nós. todos nós.

Junto com as cartas, aquelas promessas de presentes e reencontros calorosos...aquela promessa a mim mesma de que sentiria saudade quando você se fosse viraram nada. e dentro de mim o que me completa agora não é só o nada passado. é também todos aqueles passos curtos, que alongaram, que mesmo que longe do ponto alto, intesificam a busca pela infinitude vista daqui do chão.

Mas já passou. as cartas e promessas tomaram outro rumo, e não constituiram o meu eu. mas os fragmentos delas sim. e hoje sou um quebra cabeça de 100 peças, com algumas faltando, e algumas peças temporárias, meio tortas, mas passageiras. me constituem por enquanto.

Quero lhe dizer também, Maria, que minhas risadas me enchem de mim. mas me esvaziam alguns segundos depois, com poucos e minimos vestígios de bem estar. meu sorriso ultimamente tem me doído o rosto, e minha face entristecida também. espero não estar virando um meio termo entre ser triste e ser alegre. será que estou virando poeta? poeta. ser poeta me desgastaria o coração. e isso vai acontecer com o tempo. os sentidos me dominam, o único erro é que eles me enganam. e se enganam.

Quero lhe contar que de agora em diante encurtarei meus passos e alongarei meu corpo pra poder atingir a altura que quero pra ver tal infinitude do meu mundo - e de todos que me rodeiam - de cima, e aí abaixarei a cabeça pra pegar migalhas do chão, e continuarei exergando tudo, e tendo tudo ao meu alcance. meus braços serão largos pra abraçar aquilo e aqueles que me tomam e tocam. e minha inspiração vai se alongar e prolongar da mesma forma, pra poder guiar meus passos pelas palavras até as palavras alheias que se encontrarão comigo lá no alto, na visão dessa infinitude. e se as palavras nao servirem, o silêncio vai levar-me até elas, eles, até tudo que me queira por perto. ou que eu queira por perto.

Meu sono anda leve. aquele pincel parece que coça meu ouvido. aquele que colore e descolore todo esse nosso pequeno mundo. que se torna menor ainda quando me engano querendo vê-lo menor. a dois. mas se torna mais colorido, não? mais alto e com mais sons e cheiros. pena que vê-lo assim, é tão passageiro. senti-lo pesado, com o peso do mundo...e depois senti-lo como um peso de chiclé. mas aquele grudado no sapato te seguindo nos caminhos que escolhes seguir. até ele soltar, até se desfazer. e esses caminhos vão me levar - seja na sola do sapato, ou seja eu mesma pisando na grama verde - até a todo esse todo que é a vida. pararemos com tantos enigmas depois de descobrirmos que a vida não é tudo. e sim que nós somos a vida. e que somos pouco. pouco por sermos cobertos.

Somos do tamanho do que despimos de nós. não. não temos tamanho, Maria. somos o que despimos. e ao nos despirmos, somos livres. completos pelo silêncio do nada que agora nos cobre. sem perceber que nada nos cobre, por que somos tudo.

ps: e se depois de tempos descobrirmos que aquele engano de pensar que o mundo era pesado, e senti-lo no peso de um chiclé que nos gruda no sapato e antes de se desfazer nos acompanha até encontrarmos o todo da vida (ou seja, a nós mesmos, a nossa liberdade e nudez que silencia) descobrirmos que o chiclé era um outro mundo, um mundo externo a nossa liberdade, não há nada errado.

Me desculpe a falta de importância que dei aos pontos, virgulas e letras maiúsculas no texto, queria me expressar sem mais qualquer outra preocupação.

Volto a escrever em breve,
amor,
Mariana.

Saturday, August 05, 2006

''spleen''

fala baixo
baixinho
apaga a luz
e deixa a vitrola em surdina

é pena que não tenho cigarros
nem amor
pra te dar

Thursday, August 03, 2006

sobrevivência

eu
sim

sobrevivo
lenta
amarga
triste
mente em busca do infinito