Thursday, July 29, 2010

do toque e seus significados

eu não posso lhe beijar a boca. não porque sua boca não pode ser tocada pela minha, mas porque por trás do toque há de haver um significado sutil, aqui onde vivo. para vivermos esse tipo de sutilidade há de haver qualquer outra coisa que por detrás de outra coisa confirme a autenticidade do toque.
eu só quero tocar. quero tocar porque a boca é sutil. não quero pesquisar os significados por detrás das suas várias outras razões.


e depois, eu tenho que explicar a alguém que não quero mais beijar-lhe a boca. não quero mais beijar-lhe a boca porque as várias razões que nos dão permissão ao toque, eu já não as sinto mais.
e não lhe posso tocar a boca sem esses significados. porque quando temos a boca beijada, somos beijados não só pela outra boca que a encontra, mas também pelos significados que as fizeram se encontrar. e essa é a mágica. é por isso que aqui, onde vivo, o que impera é a exclusividade e a insegurança...porque esses significados nos beijam a boca e nos despem as roupas. nos tiram do sério e do nosso juízo, nos livram da importância de todas as coisas desimportantes.
não é a boca que beija, aqui onde vivo, que nos faz ser mais de nós mesmos: são as razões que a levaram até nós.
e por fim, eu tenho que explicar a algúem que não quero mais lhe beijar a boca porque, assim como aconteceu no que escrevi, eu me esqueço disso no meio do caminho...


e ainda depois disso - porque aqui onde vivo, eu só posso fazer o que mais quero (que é isso que lhes vou contar agora), depois de fazer o que menos quero; 'temos que', antes do viver o que 'queremos que' -, depois disso, eu quero, eu vou, eu anseio, eu aguardo por viver os momentos mais lindos que vivo ao lado de uma boca que não é só uma boca, mas cabeça, peito, pescoço, pernas, braços, filamentos, cansaço, corpo, alma, energia: tudo, tudo que consegue viver e se movimentar dentro daquele corpo tão pequeno...(e conseguem tantas!)
vive tanto ali como vive em mim. e eu quero misturar esse tanto, o tanto que temos de nós.
quero confundir os olhos, o cheiro, o tato, à boca, à percepção, ao íntimo.
e só depois de misturar-nos tanto, confudir-nos tanto, quem sabe, talvez, possamos desenvolver um significado. mas isso é menos importante que tudo. porque o tudo de nós é o que quero viver. não os significados desse baralho.