Tuesday, October 20, 2009

Foucault e seus princípios mais bonitos

" Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, que sejam elas já instaladas ou próximas de ser, é acompanhada de um certo número de princípios essenciais, que eu resumiria da seguinte maneira se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana:

- Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante;

- Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal;

- Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é produtivo, não é sedentário, mas nômade;

- Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária;

- Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;

- Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”;

- Não se apaixone pelo poder."

Friday, October 16, 2009

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saudade de ser só uma.
o auto conhecimento é sempre uma má notícia. voltei desnorteada da rua nessa sexta feira e não sei o que pensar. me divido em dois e quase choro
...o que é vale mais a pena ser derrubado: o que nasceu conosco ou o que se construiu conosco? ...

Thursday, October 15, 2009

le blanquet

yann tiersen me faz abrir os braços

Wednesday, October 14, 2009

piano

não sei qual é o ritmo do que escrevo, mas se for pra ser um processo catártico, vamos a isso....
o piano toca e toco as teclas do computador de cabeça abaixada, afundada no lençol branco que me enrola todas as noites...ou pelo o menos as ultimas noites, depois que trocaram o lençol do quarto sem eu sequer dar por isso...
nao faz frio...ja sao 11 e meia...nao tenho muito sono embora meus olhos se fechem sem força enquanto mantenho minha cabeça baixa, para que possa ouvir tudo aquilo que pode vir da musica...tento acompanhar com meus dedos a velocidade da musica do piano...as reticencias são seu descanso...
nao tenho certeza se quero, nesse momento, me atrelar a divagaçoes sobre a vida e como a levo...na verdade estou mais interessada em ouvir o que posso ter a não dizer quando tudo que ouço dentro de mim eh o silêncio...
não faz frio...não sei se as estrelas cobrem o céu ou se apenas o detalham...não estou de pijama mas minha calça não me incomoda...
nada que me lembre obrigação consegue me tomar à noite...eh muito louco, mas quando o céu se cobre dessa cor mais escura, o nada o acompanha; e acaba por me acompanhar também - nada em mim, nada na cama, nada na varanda, nada nos corredores, nada na cabeça....nada no corpo...é só o som...e me arrisco a dizer que não há nada no som....mas logo me arrependo porque percebo que há, no som, aquilo que não há em mim...
e por isso o ouço...numa tentativa, não sei dizer se frustada ou não, de sentimentalizar esse meu deitar, despretensioso....de fazer pulsar alguma coisa que não pulsa, de incomodar isso que não incomoda...ou de desacomodar o que acomoda...
é curioso estar aqui....uma boa sensação de paz e alívio me deita as costas....e nesse momento descanso, ainda que com saudade dos dias que entrava por essa minha janela (que agora dei pra deixar aberta do lado esquerdo, não o direito) qualquer sentimento que eu logo tentava nomear.
é estranho crescer....a naturalidade vai tomando conta de mim e me deixo mais ir pelo o mundo do que pretendo levá-lo comigo, uni-lo a mim.
fui perdendo a compulsão pelo controle e comecei a me deixar ser controlada...pelo som do piano...pelo nada que me invade...pelas estrelas que eu não vejo....por aquilo que não toco...que não julgo...que não compartilho....
quando levanto a cabeça para mudar de música percebo que muitas pessoas falam comigo nessas janelas laranjas que piscam....mas não quero romper com a sensação de que fui invadida finalmente por aquilo que temia: a sensação de estar indo, de estar sendo levada. levada por aquilo que chamam de acaso ou destino...ou pela vida simplesmente, para os mais amplos....

como conceituar alguém

se assim pudesse,
conheceria alguém apenas com os meus olhos...
sem saber o que dizem seus amigos, seus inimigos. sem saber seus erros se não fossem aqueles contados por sua alma. gostaria de sentir o quanto essa alma, assim como quando está sozinha.
sem saber seus grandes feitos, ou ouvir elogios de outras bocas...esses, vistos com outros olhos.
gostaria de poder conceituar o que conheço sem a interferência de outras vozes, outras interpretações. não é egoísmo, nem tem nada a ver com não querer vê-la de outra forma que não a minha; por que não é a minha forma: é a sua.
gostaria de poder me desprender dessa interferência externa para poder dizer se me rendo ou não ao que se mostra à mim.
não me importo se já tenha ganhado grandes prêmios, assaltado pequenas vidas, quebrado alguns corações. quero tragar só aquilo que puder me dar.
não quero enxergar com outros olhos...é devastador, tanto para mim quanto para quem se mostra, ter sua construção de si invadida por uma história contada, de quem sequer a viveu.
como se alguém pudesse reproduzir em algumas frases como foi o meu último relacionamento...e deixasse marcada nela o seu julgamento impróprio. esse é o ser mais invasivo: o que se dá ao direito de julgar sem tê-lo vivido.
e por isso digo que gostaria de ver com esses meus olhos todos os ângulos que há para ver. com os meus olhos e com o meu corpo sentir a sensação que o outro me dá; mas que a sensação venha daquele que possui toda essa sua vida - não daquele que já ouviu falar dela.
e mais que isso, gostaria de conhecer alguém que não se esconde...que se deixa falar com o mundo como fala consigo... que movimenta os braços como movimenta a alma. e que pode ranger os dentes de uma raiva que não se sabe da onde veio...
para que surpreendentemente...se descubra descoberta

Thursday, October 08, 2009

pode ser que sim

pode ser que sim: que meu meio caminho andado me leve assim, ao cheiro que tinha o seu cabelo. pode ser que meus olhos olhem teus olhos em outros olhos. pode ser que as mãos que me caibam sejam inevitavelmente tão pequenas quanto as suas...
pode ser que o seu tamanho, a sua cor...pode ser que a sua música, sua pele, seu sono..pode ser que tudo isso me acompanhe. pode ser que cada musculatura do seu corpo me acompanhe pelo tempo que vai indo e eu vou engolindo...
sua beleza se escreveu em mim.. mais do que as giletes que eu costumava usar.
mas o tempo que me engoliu e que eu pude engolir também, fez que hoje não é mais em você que vive essa beleza.
ela vive no mundo. partiu, se dispersou, se perdeu entre todas essas nano partículas que voam por aí...como uma combustão do seu ser, a sua beleza se desprendeu, se perdeu e hoje não é mais você; mas sim toda e qualquer coisa bonita que vive no mundo...
vive na delicadeza das moças. no lamento dos românticos...vive no choro dos desesperados, no impressionismo de monet...vive na alegria bêbada dos que gritam, nas construções cimentadas, no que restou da transparência dos lagos...sua beleza vive no charme de outros corpos, na tranquilidade do silêncio...sua beleza vive nos meus olhos, no meu corpo... caminha pelas ruas de santiago...pelos canais de veneza...
ela vive nas fotografias em preto e branco...nas multidões chuvosas...vive nas flores, no acordar....