Wednesday, October 14, 2009

piano

não sei qual é o ritmo do que escrevo, mas se for pra ser um processo catártico, vamos a isso....
o piano toca e toco as teclas do computador de cabeça abaixada, afundada no lençol branco que me enrola todas as noites...ou pelo o menos as ultimas noites, depois que trocaram o lençol do quarto sem eu sequer dar por isso...
nao faz frio...ja sao 11 e meia...nao tenho muito sono embora meus olhos se fechem sem força enquanto mantenho minha cabeça baixa, para que possa ouvir tudo aquilo que pode vir da musica...tento acompanhar com meus dedos a velocidade da musica do piano...as reticencias são seu descanso...
nao tenho certeza se quero, nesse momento, me atrelar a divagaçoes sobre a vida e como a levo...na verdade estou mais interessada em ouvir o que posso ter a não dizer quando tudo que ouço dentro de mim eh o silêncio...
não faz frio...não sei se as estrelas cobrem o céu ou se apenas o detalham...não estou de pijama mas minha calça não me incomoda...
nada que me lembre obrigação consegue me tomar à noite...eh muito louco, mas quando o céu se cobre dessa cor mais escura, o nada o acompanha; e acaba por me acompanhar também - nada em mim, nada na cama, nada na varanda, nada nos corredores, nada na cabeça....nada no corpo...é só o som...e me arrisco a dizer que não há nada no som....mas logo me arrependo porque percebo que há, no som, aquilo que não há em mim...
e por isso o ouço...numa tentativa, não sei dizer se frustada ou não, de sentimentalizar esse meu deitar, despretensioso....de fazer pulsar alguma coisa que não pulsa, de incomodar isso que não incomoda...ou de desacomodar o que acomoda...
é curioso estar aqui....uma boa sensação de paz e alívio me deita as costas....e nesse momento descanso, ainda que com saudade dos dias que entrava por essa minha janela (que agora dei pra deixar aberta do lado esquerdo, não o direito) qualquer sentimento que eu logo tentava nomear.
é estranho crescer....a naturalidade vai tomando conta de mim e me deixo mais ir pelo o mundo do que pretendo levá-lo comigo, uni-lo a mim.
fui perdendo a compulsão pelo controle e comecei a me deixar ser controlada...pelo som do piano...pelo nada que me invade...pelas estrelas que eu não vejo....por aquilo que não toco...que não julgo...que não compartilho....
quando levanto a cabeça para mudar de música percebo que muitas pessoas falam comigo nessas janelas laranjas que piscam....mas não quero romper com a sensação de que fui invadida finalmente por aquilo que temia: a sensação de estar indo, de estar sendo levada. levada por aquilo que chamam de acaso ou destino...ou pela vida simplesmente, para os mais amplos....

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