Monday, April 25, 2011

os sonhadores

sabe, eu quis escrever um blog sobre sonhos.
queria sonhar em voz alta e me indignar baixinho. gritar os meus olhos descontentes que nao entendem porque é que se trancam passarinhos nas gaiolas. ou coelhos.
hoje passei por uma casa de aves, cheia de pássaros amarelos e laranjas. todos presos. em cima de um tronco piando sem parar.
e eu choro, claro que choro.

choro porque não entendo esse silêncio quando viver é tão díficil - pelo que se vê, pelo que se vive, pelo que se passa.
quando tantos se aproveitam do dinheiro daqueles de quem deveriam estar cuidando. eu admiro bem os políticos que sustentam algum princípio e continuam na política. eu ainda tenho 19 e ando tão decepcionada. o que dirá um deputado que assiste e reinvindica e acaba por engolir e se calar, ou por fazer somente o possível - e não o necessário - pra vida ficar mais vivida?

porque se nem a fome faz gritar, que posso fazer eu? grito sozinho não se ouve, não. eu quero é gritar junto.

gritar desse coração gigante que vai se empequinando ao longo do dia, da semana, dos anos....que aceita egoísmo, descaso, invisibilidade, injustiça, ódio, disputa e poder sobre poder...
e se cala, se fecha, se aquieta.

quando eu sinto meu pulso inquieto pareço saber que todos sentem também. e vivo na angústia de não saber pra onde correr porque ninguém corre comigo.
porque a vida anda tão foda que um dia de sol e riso vale muito mais do que o cansaço de brigar por dia melhores pra todos e por tempos.

eu acredito que muito pouco se tentou isso, também - por muitos, muito pouco. por poucos, talvez mais.

e assim eu engulo o choro vendo os pássaros na gaiola, e os homens também. homens e mulheres na gaiola de uma prisão em uma condição escrota porque cometeram o que chamamos de crime. e o crime que cometem conosco dia a dia?


- quem é que paga por ele?

nós mesmos

Saturday, January 15, 2011

"Sempre é hora de fazer o que é certo” (Martin Luther King Jr.)

Vendo as imagens de Teresópolis, Suzano, vendo os barrancos desmoronarem, casas debaixo de 4 metros de água, corpos sendo levados pela correnteza das águas, sujas de lama, conduzindo os sacos de lixo e os corpos dos cachorros; enquanto via tudo isso me percebi numa ira violenta contra essa verdade da desigualdade que engolimos com um chop e pensamos: que tristeza...
é, que tristeza. que tristeza o desamparo público, que tristeza que sejam sempre essas pessoas que sofrem as falhas do país. porque a gente sabe que o sistema de saúde é deficiente, que o ensino é problemático, que a infra estrutura é sucateada, que os transportes públicos mais cansam os pés dos que trabalham do que os descansam depois do trabalho. a gente sabe de tudo isso mas vive fora. eu não preciso do sistema de saúde, do ensino público, não preciso pegar 2 ônibus por dia, nada, nada: eu não sou obrigada a lidar com o lado problemático dessa política.
o que me revolta é que tem gente que tem. são sempre eles que tem as casas destruídas, que ficam 5h parados no trânsito em um ônibus lotado, são eles que esperam 8 meses por uma consulta, são eles, são eles que choram agora enquanto eu sento no sofá da minha sala que não alaga pra escrever e me lamentar sobre tudo isso.
eu não entendo como isso não gera uma comoção nacional, um sentimento de solidariedade em todo mundo. na verdade, não entendo também o que esperava que acontecesse. esperava, é claro, que houvesse o amparo político pra todos esses que sofrem. os que me representam ali em cima, tudo que espero deles é que sejam justos, sejam coerentes, sejam pais de um país inteiro, e não só de si mesmos. que se dane a decoração nova da câmara, que se danem os feriados dos dislexos, a tentativa de enriquecer mais do que já são ricos. PRECISA MESMO DISSO? não tem vergonha, não tem noção de humanidade, não tem vontade de que todos tenham a possibilidade de uma vida digna? não tem desejo de mudança, não tem sentimento de pena? nem que seja pena, pode ser pena...depois de ver a vida de todas as pessoas ser destruídas pela água, essas pessoas que depois de enfrentarem todos os problemas desse sistema, ter tudo destruído, até lhes restar somente A VIDA?
eu não compreendo. eu não entendo. eu não sei ONDE ELES ENFIARAM A HUMANIDADE
onde tá a humanidade nesse país????????????????????????????

Thursday, July 29, 2010

do toque e seus significados

eu não posso lhe beijar a boca. não porque sua boca não pode ser tocada pela minha, mas porque por trás do toque há de haver um significado sutil, aqui onde vivo. para vivermos esse tipo de sutilidade há de haver qualquer outra coisa que por detrás de outra coisa confirme a autenticidade do toque.
eu só quero tocar. quero tocar porque a boca é sutil. não quero pesquisar os significados por detrás das suas várias outras razões.


e depois, eu tenho que explicar a alguém que não quero mais beijar-lhe a boca. não quero mais beijar-lhe a boca porque as várias razões que nos dão permissão ao toque, eu já não as sinto mais.
e não lhe posso tocar a boca sem esses significados. porque quando temos a boca beijada, somos beijados não só pela outra boca que a encontra, mas também pelos significados que as fizeram se encontrar. e essa é a mágica. é por isso que aqui, onde vivo, o que impera é a exclusividade e a insegurança...porque esses significados nos beijam a boca e nos despem as roupas. nos tiram do sério e do nosso juízo, nos livram da importância de todas as coisas desimportantes.
não é a boca que beija, aqui onde vivo, que nos faz ser mais de nós mesmos: são as razões que a levaram até nós.
e por fim, eu tenho que explicar a algúem que não quero mais lhe beijar a boca porque, assim como aconteceu no que escrevi, eu me esqueço disso no meio do caminho...


e ainda depois disso - porque aqui onde vivo, eu só posso fazer o que mais quero (que é isso que lhes vou contar agora), depois de fazer o que menos quero; 'temos que', antes do viver o que 'queremos que' -, depois disso, eu quero, eu vou, eu anseio, eu aguardo por viver os momentos mais lindos que vivo ao lado de uma boca que não é só uma boca, mas cabeça, peito, pescoço, pernas, braços, filamentos, cansaço, corpo, alma, energia: tudo, tudo que consegue viver e se movimentar dentro daquele corpo tão pequeno...(e conseguem tantas!)
vive tanto ali como vive em mim. e eu quero misturar esse tanto, o tanto que temos de nós.
quero confundir os olhos, o cheiro, o tato, à boca, à percepção, ao íntimo.
e só depois de misturar-nos tanto, confudir-nos tanto, quem sabe, talvez, possamos desenvolver um significado. mas isso é menos importante que tudo. porque o tudo de nós é o que quero viver. não os significados desse baralho.

Friday, June 25, 2010

então, nega, e então que você vem e me aperta fundo nesse corpo branco, liso, nesse seu cheiro de sono, nesse seu cheiro amanhecido, quente, todo quente
e a gente tem fome, a gente se encosta, a gente se entrega, a gente se perde. se perde em tudo que é nosso, e eu em tudo que é seu, voce em tudo que é meu, e a gente em tudo que a gente já descobriu, e em todos as outras sutilezas que ainda não... a gente se perde também.
e eu continuo assim, pequena, encolhida entre seu pescoço e seu ombro...de cabeça pra baixo com tudo isso que você é e sabe ser. e eu vou dizendo, vou escolhendo todas as palavras pra caber na perna, no tronco, no rosto...e te escrevo. te escrevo e reescrevo, sem fim, sem parar, depois da tinta, depois do corpo, depois das palavras, eu te escrevo, a todo o tempo, em mim, no banho, na água do café, eu te escrevo em tudo que se vê
e depois que vc vai embora, ainda me chega pelas pernas, pelos braços, vai me subindo os cabelos essa sua ausência, que pesa o mesmo que você.
ela me encosta, ela me toca, ela me pega e eu me encaixo nela como te encaixo durante a noite.
a falta que você faz nesses dias que com você não fazem falta alguma, me leva de volta a você. e a gente se aperta e a gente se encosta e a gente tem fome e a gente se perde, tudo de novo, afundadas no lençol, na cama, no quadro da janela, afundadas em casa, afundadas na vida
e eu te repito
religiosamente
eu que nem acredito em Deus

mas eu calo
e nao sei bem porque

Wednesday, June 02, 2010

i live to love
ontem eu tive pressa.
pressa no semáforo, pressa no banho, na espera do ônibus, no caminho do metrô.
fez frio.
e eu quase me alegro, porque sei que na noite em que estiver quente
eu e o tempo
congelaremos...

Monday, May 31, 2010

eu me dedico. eu dedico todas as horas do dia, ainda que me engane sentada no sofá em vez de sentar no seu colo. eu vivo o meu amor.
me dedico à imaginação, à supor e pressupor, desviar, refazer.
talvez por isso eu acabe falhando na tentativa de me dividir entre mais pessoas. porque o que vivo é o que sinto. e sinto tanto que não posso viver outra coisa.
e aí eu fui saindo da cama, envolta de beijos e gargalhadas e entendi o que é o carinho. não sei se chama carinho isso que senti - essas palavras abstratas nunca mensuram ou descrevem o que pretendo.
mas descobri um sentimento bom. que só havia, até então, compreendido; nunca sentido.
isso é viver. sentir o que só então se compreendia.
percebi então que pensar é saber mas saber não é sentir.
sentir é nãosaber

Friday, May 28, 2010

durante a minha melhor sensação do mundo
tudo que eu quero é ver seu rosto
...