Tuesday, August 25, 2009

hoje vejo que tantas coisas lindas se tornaram toscas...
mas o sensacional é perceber que todo o nosso esforço para descobrir os nossos limites é também o esforço que fazemos para ultrapassá-los...

síntese

o que

vou demorar um tempo para assumir que não sou poeta
ainda que o saiba, ainda que o sinta
é que por enquanto eu ainda vivo essa coisa de ser o que eu quiser ser...

e ser poeta me alivia também. as coisas passam a parecer menos exatas
mais humanas

Friday, August 21, 2009

(não preciso escrever sobre isso desde que eu o saiba.
espero por inspiração.. )

enquanto isso...
dia de muito mau humor. mas as coisas tem se esclarecido..
cada dia que passa espero ser menos moralista e racional..e essas sensações terríveis que me ocorrem quando me sinto coagida talvez não sejam nada mais que o minha curiosa e previsível necessidade de controlar a vida...e mais ou menos como funciona como o medo...quando não se pode controlar seus atos, as pessoas tendem a controlar a vida...haha..uma atitude bem pretensiosa e provavelmente inconsciente...
dia desses, eu me percebi numa situação tão inesperada que não conseguia sequer suspirar. ainda que eu quisesse muito - e só descobri isso hoje. mas parece que vem um nó e me maltrata. eu só expiro. e interrogo.
tô tentando me livrar disso mas eu tenho uma certa dificuldade...e tenho pensado e repensado numa coisa... preciso me ultrapassar...cada vez mais...cada dia mais...cada hora mais...

Wednesday, August 19, 2009

que se cale

todas essas palavras
tão duplas, tão sós
dizem sempre a mesma coisa
sobre versos, nós,
de como o vento voa
para quem esquece

eu pretendia dizer numa única nota
num som só de tão somente
um "sim" que sussurrasse seus significados
em diversas línguas
inversas ou não...
por infindas etnias,
por toda a humanidade,
povoada de diferentes tons
pardos
vermelhos

um sim que unisse todas as palavras
para amanhecer o dia
e que dissessem o que ninguém disse

um cálice às negações
um cálice tão silencioso que dorme
tudo que se nomeia

e nessas palavras que todos os poetas repetem
decor em cor
eu sumo

porque desfaleço ao perceber
que as palavras me comeram
e o poema que faria de ti
fiz pr'aquilo que não te pode ser:
as palavras.

o não dito pelo já dito

eu te escrevi para entender
que só no silêncio
uma nota que ainda não descobri
podia musicar-te

Monday, August 17, 2009

la edad del cielo

No somos más
que una gota de luz,
una estrella fugaz,
una chispa, tan sólo,
en la edad del cielo.

No somos lo
que quisiéramos ser,
solo un breve latir
en un silencio antiguo
con la edad del cielo.

Calma,
todo está en calma,
deja que el beso dure,
deja que el tiempo cure,
deja que el alma
tenga la misma edad
que la edad del cielo....

No somos más
que un puñado de mar,
una broma de Dios,
un capricho del Sol
del jardín del cielo

No damos pie
entre tanto tic tac,
entre tanto Big Bang,
sólo un grano de sal
en el mar del cielo...

Tuesday, August 11, 2009

versus

escrevo agora porque a música que toca
é a que hoje amo
mas isso não significa nada:
enquanto sinto não há significados
não há sentido
só sentidos.

escolho um momento
do que sei
para escrever

nada me vem a cabeça

meu pensamento se adianta:
antes do sol nascer
meu pensamento já o pariu

e assim, o que sinto quando o sol nasce
nada mais é do que o que meu pensamento não pôde alcançar.
eu sinto o que resta -
o inalcançável

meu pensamento sustenta até mesmo o que já foi
e já não é:
passei por uma noite bonita
e meus sentidos por lá suspiraram
passou, a manhã veio,
entardeceu,
dias passaram
e meu pensamento ainda pode levantar aquela noite
e me fazer suspirar

um dia escreverei
o que penso sobre o dia que passa
e em seguida escreverei
o que sinto, sobre o mesmo dia
que ainda passa

não sei em qual atingirei os céus
mas sei que as ruas se tingirão
opostas

e confusa, me pergunto:
quem,
além do meu pensamento
poderia descobrir meus sentidos
- tão encobertos -
ainda que gritem
ainda que vivam?

olho para a casa ao lado
para entender o que digo
ou desordenar a mesma linha

(ainda não concluí o que espero de mim -
mas espero não concluir nunca
nada
sobre esse tudo que sou)

o reflexo me para.

Fernando Pessoa

NÃO: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já.

É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.

Monday, August 10, 2009

quando

passa. o tempo passa.
os amigos mudam. os amores voam. a gente se ultrapassa. amar o que? eu não amo os laços. eu não crio amor a longo prazo.
não sustento uma relação com o argumento de que essa relação existe há um tempo.
eu não amo o passado, não me relaciono com ele. eu não amo o que criei: amo o que crio, a todo o momento:e sustentá-lo deve significar mais do que apenas mantê-lo.
o passado mora em mim, faz parte de mim, mas isso não significa que ele faça sentido. eu sou feita dele, mas ele não precisa me ser, necessariamente.
me renovo de novo e algumas coisas acabam por perder o sentido.
ainda que existam, ainda que vivam, não batem. não andam. não crescem. não morreram mas já dormiram na lembrança.
e eu já não posso amar apenas por já ter amado...ou admirar por já ter admirado.
finalmente, me dou a possibilidade de me desprender de tudo e de mim. do que já fui para me tornar o que sou. minha entrega é agora.
meus sentidos respiram o dia em que acordo. isso é tudo - por hoje, que é sempre

Thursday, August 06, 2009

um canto em um dia quente

não venta muito onde moro
as arvores soam seu movimento como quem dança
são leves
não pesam

as esquinas formam as possibilidades de pedra e cor
olho a rua como quem pode prever escolhas
mas o caminho do alfalto nos leva apenas ao fim dele mesmo:
esgota-se

e de gota em gota
o sol chove

de fim a fim
os canais suspeitam
do verde que os cobre
e quando as folhas dançam
a água dança também


(e assim assino me lembrando que o fim é só um ponto de vista)

um girassol da cor do seu cabelo

Vento solar e estrelas do mar
A terra azul da cor de seu vestido
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo?

Se eu cantar, não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?

Sol girassol verde vento solar
Você ainda quer dançar comigo?
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo

Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem...ou será que é tarde demais?


O meu pensamento tem a cor do seu vestido
Ou um girassol que tem a cor do seu cabelo

Sunday, August 02, 2009

os românticos supõe

uma das músicas mais bem sacadas que já ouvi, do Silvio Rodrigues, versão do Chico Buarque:

Supõe

"Supõe que já cruzamos pela vida
Mas nos deixamos sempre para trás
Porque eu andava sempre na avenida
E tu corrias pelas transversais

Supõe que num comício colorido
A praça, enfim, vai nos conciliar
Supõe que somos do mesmo partido
Supõe a praça a se inflamar
Bandeiras soltas pelo ar
E tu começas a cantar
Supõe que eu vibro, comovida
E supõe que eu sou tua canção (...)

Supõe que sem pensar nos abraçamos
Supõe que tudo está como previmos
É a primeira vez que nos amamos
Supõe que falas sem parar
Supõe que o tempo vem e vai
Supõe que és sempre original
Supõe que nós não nos despimos
E supõe que eu sou tua canção"

XV

você controla seu tempo ou o tempo controla você?

XIV

você se rende?

XIII

porque você se limita?

XII

quais limitações são naturais e quais limitações são culturais?

XI

o que é o medo?

X

o que seus olhos podem tocar e suas mãos não?

IX

andar sozinho ou descansar sozinho?

VIII

quão perto é o tangível? quão longe é o inatingível?

VII

eu me sustento pelo que ouço ou eu me sustento pelo que penso?

VI

você crê no que cria?

V

desconstruir ou construir?

IV

pensamento vem de fora ou pensamento vem de dentro?

III

você cava o poço para sentir sede ou você sente sede para cavar o poço?

II

o que em você não se entrega?

I

seus pés seguem você ou você segue seus pés?

dúvida

tão sozinhos ainda que completos
nossa alma usa nosso corpo para deixar-se tocar,
e o que ela grita o corpo sussurra
e no sussurro daquele, encontramos o grito.

tão sozinhos ainda que completos
nos acometemos no infinito de um lago ensolarado
entregamos nossos dedos e nossa saliva
entregamos nosso chão

ansiosos para nos salvar da estrada da dúvida
do que seremos nós
para então acometer-se no lago do que ouvimos falar
e descobrir quanto podemos ser

entregamos nossas rotas
nosso passado
todos os passos que demos
todas as chuvas que secamos
para afogar-se no óbvio do presente:
nos entregamos ao que nos habita
calado

supõe então que nos jogamos para concretizar o infinito,
para saber quanto dura o sempre
qual é a dureza das horas.

tão completos, pensando não saber o sabor do sol
em qual felicidade o tempo dobra
e a lua corre

pulamos

mas podemos nós nos entregar à sensação de vôo mais vezes ao mesmo tempo?
sem dividir-se
sem partir - (se)

haverá naquilo que vivemos toda a nossa totalidade?

drummond

"as coisas findas, muito mais que lindas essas ficarão"

voz

Faz frio. De repente estou atada à minha cama. Meus pensamentos me cobrem...
Estou confusa entre o racional e o sentimental. Penso qual é o limite de cada um. Não penso mais.
(...) Logo volto e consigo ver as tantas diferentes posturas que podemos adquirir durante os momentos que nos consomem. Como minha coluna se endireita diferente quando penso. Como meu corpo amolece e quase cai quando estou sentindo. São passos tão opostos...
Mas penso que não me movimento muito enquanto penso. O pensar me dá uma perspectiva do real um pouco mais árida, detalhada, fria, calculada. Minha boca seca assim como meus movimentos. Estou árida também.
Eu sinto tão pouco que nem me lembro de como é quando sinto. Sei da moleza. Da vulnerabilidade. Mas é difícil desconstruir a minha racionalidade. Estou atada a ela com os pulsos livres. (não os sinto)
Mas sei que meus olhos são mais doces enquanto sensível;
Quando penso meus olhos comem. Sugam todos os outros olhares, movimentos, rastros, restos e todas as entrelinhas: tudo se come- tudo se traga.
Meus olhos doces não se alimentam. Eles sentem o vento, vêem a beleza: isso basta.
Minha confusão me confude. Tudo me remete a uma questão moral que me contorna e me segue. Estou cega.
O que meus braços farão? Para onde irão meus abraços?
Ouço.
O que ultrapassaríamos se nos guiássemos pelos ouvidos?