Wednesday, August 23, 2006

carta

Querida Maria,

Lhe escrevo pra tentar discernir dentro de mim todas as coisas boas e ruins que me aconteceram ultimamente. e pra explicar o que não é possível ser explicado.explicar como todo esse mundo se tornou pequeno, de acordo com as emoções e comoções pequenas que me rodeiam - logo nessa infinitude.

A vida anda sendo descrita no vento que bate no rosto, com fragmentos de cheiros e cores de pessoas que tem o peso de um pequeno mundo. o seu mundo. tenho medo de estar caindo num abismo que não tenha rumo de queda, que não me leve pro alto. o que deveria fazer pra poder ir acima da infinitude que não vejo? poder pular de lá de cima e cair em braços desconhecidos, ter o peso do vento. aquele vento, que é contido fragmentos de cheiros e cores, fragmentos de mundos. seriam eles pesados demais pra serem sustentados?e quem sustentaria? os braços se partiriam no meio, mesmo que milhões deles, por que são fracos diante da visão de infinitude que carregariam.

Ando sem sono, mas querendo sonhar. ando sem comoções, mas me apaixonando. e me apaixonando pelo nada, pelo nada que via como tudo. o nada que me levava aquele alto. e quando me deparei a baixo, olhei pra cima e ele não estava mais lá. quem sabe fosse abaixo de mim, abaixo do chão que pisava...um engano.

Minhas cartas já enviadas se tornaram nada, o destinário havia sido um engano, uma ilusão de qualquer coisa acima de mim. antes nao tivessem rumo, como o abismo que receava cair. elas ficariam pra mim. seriam guardadas e mandadas pra corda de palavras e rimas que faria pra laçar aquela estrela e subir pra olhar a infinitude que somos nós. todos nós.

Junto com as cartas, aquelas promessas de presentes e reencontros calorosos...aquela promessa a mim mesma de que sentiria saudade quando você se fosse viraram nada. e dentro de mim o que me completa agora não é só o nada passado. é também todos aqueles passos curtos, que alongaram, que mesmo que longe do ponto alto, intesificam a busca pela infinitude vista daqui do chão.

Mas já passou. as cartas e promessas tomaram outro rumo, e não constituiram o meu eu. mas os fragmentos delas sim. e hoje sou um quebra cabeça de 100 peças, com algumas faltando, e algumas peças temporárias, meio tortas, mas passageiras. me constituem por enquanto.

Quero lhe dizer também, Maria, que minhas risadas me enchem de mim. mas me esvaziam alguns segundos depois, com poucos e minimos vestígios de bem estar. meu sorriso ultimamente tem me doído o rosto, e minha face entristecida também. espero não estar virando um meio termo entre ser triste e ser alegre. será que estou virando poeta? poeta. ser poeta me desgastaria o coração. e isso vai acontecer com o tempo. os sentidos me dominam, o único erro é que eles me enganam. e se enganam.

Quero lhe contar que de agora em diante encurtarei meus passos e alongarei meu corpo pra poder atingir a altura que quero pra ver tal infinitude do meu mundo - e de todos que me rodeiam - de cima, e aí abaixarei a cabeça pra pegar migalhas do chão, e continuarei exergando tudo, e tendo tudo ao meu alcance. meus braços serão largos pra abraçar aquilo e aqueles que me tomam e tocam. e minha inspiração vai se alongar e prolongar da mesma forma, pra poder guiar meus passos pelas palavras até as palavras alheias que se encontrarão comigo lá no alto, na visão dessa infinitude. e se as palavras nao servirem, o silêncio vai levar-me até elas, eles, até tudo que me queira por perto. ou que eu queira por perto.

Meu sono anda leve. aquele pincel parece que coça meu ouvido. aquele que colore e descolore todo esse nosso pequeno mundo. que se torna menor ainda quando me engano querendo vê-lo menor. a dois. mas se torna mais colorido, não? mais alto e com mais sons e cheiros. pena que vê-lo assim, é tão passageiro. senti-lo pesado, com o peso do mundo...e depois senti-lo como um peso de chiclé. mas aquele grudado no sapato te seguindo nos caminhos que escolhes seguir. até ele soltar, até se desfazer. e esses caminhos vão me levar - seja na sola do sapato, ou seja eu mesma pisando na grama verde - até a todo esse todo que é a vida. pararemos com tantos enigmas depois de descobrirmos que a vida não é tudo. e sim que nós somos a vida. e que somos pouco. pouco por sermos cobertos.

Somos do tamanho do que despimos de nós. não. não temos tamanho, Maria. somos o que despimos. e ao nos despirmos, somos livres. completos pelo silêncio do nada que agora nos cobre. sem perceber que nada nos cobre, por que somos tudo.

ps: e se depois de tempos descobrirmos que aquele engano de pensar que o mundo era pesado, e senti-lo no peso de um chiclé que nos gruda no sapato e antes de se desfazer nos acompanha até encontrarmos o todo da vida (ou seja, a nós mesmos, a nossa liberdade e nudez que silencia) descobrirmos que o chiclé era um outro mundo, um mundo externo a nossa liberdade, não há nada errado.

Me desculpe a falta de importância que dei aos pontos, virgulas e letras maiúsculas no texto, queria me expressar sem mais qualquer outra preocupação.

Volto a escrever em breve,
amor,
Mariana.

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