Saturday, August 26, 2006

volto a lhe escrever, maria

Resolvi voltar a lhe escrever em menos de uma semana, Maria.Espero não ser um incomodo, espero que minhas palavras não cansem seus olhos.
Ando com preguiça de viver, Maria. Uma preguiça de ter que alongar as pernas e braços quando penso em pensar. Quando acordo pra viver. Ou quando ainda não acordei...Puro ócio.
Não é a monotonia do lugar em que me encaixo, é a monotonia de viver literalmente. Pessoas nunca me cansaram, pelo contrário, elas me impulsionaram sempre a fazer qualquer coisa a qualquer momento. E hoje estou indo dormir tão preguiçosa delas...A vida anda me deixando mole, Maria.
Acordo com sono, adormeço no banho, sonho no almoço, me edifico em outro plano enquanto estou no cinema, acordo com o por-do-sol e cambaleio de sono quando a noite vem. Não tenho tempo de viver. Por opção. A preguiça me dominou. As vozes parecem canções de ninar, adormeço antes de ouvir as primeiras palavras. E ler então, Maria? Essas palavras que escrevo agora estão tão embaçadas. E não, não são meus olhos. Aliás, são eles sim, mas não os olhos em si. Mas a minha visão de que as coisas perderam o contraste. Perderam a clareza. Mas não, não perderam o sentido. Eu tenho sentido ainda, Maria?
Sentido de entendimento, significação, intenção, eu digo. Eu ainda tenho, Maria? Sentido de sentir eu tenho sentido pouco. Alguns vestigios quem sabe de qualquer boa lembrança de voltas rápidas de roda gigante que a vida me deu. Ando metaforica, não é? Isso não deveria ser bom.
Maria, não ando com preguiça de lhe escrever. Me sinto como se escrevesse pra mim. E é, não é mesmo?
Ah Maria...Ando repetindo seu nome tantas vezes, e nem sei quem você é. Ando repetindo tantas coisas tantas vezes, e nem sei o que são.
Ontem ouvi que alguém era capaz de roubar a essência de outra pessoa. Essa preguiça será o acarretamento do furto da minha essência? Ou será que essa carta, junto com a preguiça, estão embriagados na minha essência? A primeira opção me confunde. Ninguém me fortalece tanto a ponto de fazê-lo. Acho que minha essencia é quem está embriagada. Embriagada dentre tantos, tantas...entre outros fragmentos de essencia que me apoderei. Fiz mal, Maria? Foi errado? Pra onde foram esses fragmentos? Não os encontro na minha essencia. Talvez por preguiça de procurar.
Olha Maria, lhe direi. Quero cantar. Cantar mesmo. Quero correr de bicicleta com a música no último volume enquanto o vento bate na minha cara. Quero tomar água de coco. Quero correr atrás da bola de futebol que sempre me acompanhou. Quero parar com a fumaça saindo da minha boca, e entrando nos meus pulmões. Quero sonhar. Quero lembrar dos meus sonhos. Quero fotografar. Quero rimar. Quero pular no mar. Fazer guerra de comida. Quero tomar sorvete. Quero gargalhar. Quero ver. Quero ouvir. Quero dormir.
Vamos dormir, Maria? A noite já veio faz tempo. O meu sono também. Passei reto pela rede amarela em que sempre deitei e nem liguei. Preciso arrumar minha cama. Meu armário, minha estante. Preciso me arrumar. Preciso de conserto.

3 comments:

Anonymous said...

Muito bonito o texto!!!

Anonymous said...

eu tinha certeza que ia ter um filho/a poeta/isa
Adorei
Bbbbbbbbjs

Anonymous said...

que ironia essa a do destino, hein?
justo pra maria, logo a maria... Ai deus.