Wednesday, April 29, 2009

trecho aos que não enxergam o que veem

escrever é como dedilhar em meus olhos o que não consegues enxergar

escrevo, então, ainda que não leias. ainda que tenhas uma grande e indelicada alma, onde não lês a brandura dos braços que abro e que comemoram - comemoram a sutileza do que não se sabe; um não-saber tão sensível que palpável. e ao passo que escrevo, intento dizer-te, dizer-lhe, dizer-vos, dizer-lhes o que não enxergam. o que olham, distraídos, desfocados.
os fracos deslizes invisíveis e indizíveis a olho nu, os grandes descompassos, as voltas, as idas, as memórias: não se enxerga a grandeza d'alma. e aos que escrevo, deslizo, descompasso tão inerte que quase me esqueço. escrevo indo, escrevo o que volta, escrevo o que hoje é tão cheio de passado...o que não se pode lançar.
escrevo ainda que convicta, ainda que tensa, ainda que fraca, ainda que solta, ainda que mágica, ainda que viva, ainda que caia; escrevo por que não leem-me os olhos - leem o que digo; escrevo porque não gravito onde pertenço, e preenchida de mim, escondo a intensa parte de quem vive.
escrevo para pousar o signo da leveza que hoje em mim se integra. pouso e me codifico em pequenas palavras e versos calejados. codifico o que não se ouve

1 comment:

.Isa. said...

" hoje é tao cheio de passado..." Adoro essa frase.
amovocê