Wednesday, April 15, 2009

eu escrevo.
eu escrevo pra dar esperança pro que não tem conserto. escrevo pra enchargar o que é seco. escrevo pra metaforizar todos os ocos da vida e fazer do oco mais oco, o vazio mais bonito dos que se enchem.
eu escrevo pra metaforizar todos os meus sentidos e não-sentidos. todos os meus suspiros e todos as minhas respirações, simples e óbvias.
eu escrevo pra racionalizar. escrevo pra entender. escrevo enquanto ainda existem perguntas sem resposta.
mas hoje...hoje não escrevo. não escrevo porque não racionalizo. não entendo. não pergunto. não escrevo para transformar. nem indagar.
não metaforizo nada porque não há metáfora mais delicadada do que todas as inspirações que não venho tendo. meu coração quase cheio do que não escrevo seria perfeito pra qualquer construção literária se eu já não me sentisse dentro dela.
tenho tido dias lindos, acordes sutis, acordares preguiçosos, tons cianos, pensamentos macios, gosto colorido, um vazio lotado de infinito...
mas ainda assim não pretendo um poema, uma crônica; não pretendo a prosa, sonetos perfeitos, versos decassílabos, um texto sem ponto e sem vírgula que tire o fôlego. não pretendo afundar minhas palavras nas rimas mais bonitas que posso escrever...
as palavras moram comigo, moram em mim, flutuam em mim e eu venho nadando não nelas - mas em todas as suas relações. como se essas palavras que guardo e que toco se confundissem e formassem prosas tão lindas, mas tão lindas que não preciso escrevê-las. estou nelas.
a banalidade que se vive quando se vive assim, deixa qualquer banalidade incrivelmente misteriosa...

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