Wednesday, May 20, 2009

fahrenheit 451

Já nao tenho a passada necessidade de escrever diretamente ao papel. Hoje já me dou bem com esse pequeno teclado preto...
Ainda que acredite cada vez mais na veia que me direciona para a crítica, não para a literatura - escrita entre tantos substativos abstratos, adjetivos metafóricos, advérbios de intensidade; onde eu, quando tento compôr poesias ou prosas, acabo por untar todos os ideais românticos realistas barrocos e modernos numa só construção -... sei admirar cada característica dos seus movimentos; inclusive o atual, que no Brasil é quase nulo.
Tenho pensado, assim como escrevo - numa linguagem simples e clara (taí a razão para minha não-veia-literária) - no que acontecerão aos livros... No futuro de tudo aquilo que não é virtual ou visível aos olhos.
Enxergo a invasão tecnológica mais ou menos como a revolução industrial, onde se perdeu a qualidade do que é manual, substituídos por máquinas que tornavam suas mãos inúteis senão para apertar botões e coisa e tal. Assim como enxergo nessa, também imposições a novas formas de pensar, agir, de relacionar espaço-tempo, etc...
Na verdade, indagando sobre o futuro da literatura, vejo o cinema, por exemplo, como seu grande inimigo. Não por ver o cinema com o intuito de aniquilá-la, mas por consequência do contexto histórico atual. Dessa forma, pesa um fardo enorme nas obras cinematográficas: carregar toda a dimensão literária em filmes que tendem a ser cada vez mais curtos e objetivos.
Hoje não é mais necessário esperar 300 páginas para saber o que acontecerá no desfecho da história - mas apenas algumas horas.
Lamento pensar na grande responsabilidade do cinema de promover na sua arte a subjetividade dos livros, os seus objetos adjetivados, suas metáforas, hipérboles e comparações. Poucos, raros, são os diretores que conseguem transmitir numa obra cinematográfica ideais de movimentos culturais, como David Lynch, que conseguiu admiravelmente passar de forma bem visível o surrealismo para sua obra. Admiro-o, ainda que seus filmes não me agradem os olhos.
Mas como substituir uma arte em outra arte? Não avisto ou sequer almejo uma possibilidade.


Não leio tanto como minha mãe, que não sei se posso afirmar ler menos que a sua, mas suspeito que a proxima geração que espero assistir - ou não -, não lerá tanto como a minha. Por isso, sei que o hábito de fazê-lo, assim como o de pensar e criticar, são marcados por contextos históricos. No contexto histórico atual não há maiores reinvindicações, interesses culturais ou uma curiosidade aguçada, por ser uma geração que não compartilha desses ideais na sua formação.
Mesmo sem ver isso ao olhar pros lados, tenho uma esperança naquilo que não vejo, porque ainda pouco conheci: de que a geração que me acompanha, ainda que não tenha compartilhado de um momento social favorável para adquirir o hábito da leitura, da indagação, das críticas e do pensamento racional de uma maneira geral, possa sim tentar mudar esse contexto, e como consequência retomar hábitos que me parecem insubstituíveis, como os livros...De 90 pra cá não é nem possível dimensionar a crescente invasão de informações sofrida, o que foi sem dúvida a grande causa de toda essa perda de interesses culturais, que se alastram para a ala literária...

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