Wednesday, September 20, 2006

a música.

...e tem umas músicas...aliás, umas não. é uma só. que me dá uma vontade de largar todas as palavras mais abrangentes possíveis, que venham a explicitar alguma coisa que nem é explicita em mim. me dá vontade de largar pelo chão montes de papéis, cada um com uma frase, e depois pendurar pelo quarto. como vozes que me gritam e me estilhaçam.
me dá vontade de olhar só pra frente, de seguir só em frente, não olhar pra trás. nem pros lados. nem pra longe.
finca em mim uma dor no peito me deixando só o pó que não sei da onde vem. me faz instável. e embora me grite por parar, a melodia me faz querer continuar. e ouvir, ouvir. parece que me escuto enquanto a ouço. enquanto estremeço quando chega o refrão. o mundo devia ouvir essa música! faria tão mal...e tão bem.
dá vontade de largar tudo que tá nas mãos, parar de escrever, e tirar de mim essa coisa que faz mal. e que nunca aparece. mas que é presente. só não é visível. mas é essencial, é bruta, é dolorosa e prazerosa. tenho a impressão de que se eu deitar na cama vai sair de mim qualquer cor ofuscante até aos meus olhos. vai levar pra longe tudo que é irrelevante a minha volta, e vai deixar o que me é inevitável. vai fazer uma rodamoinho em volta de tudo, vai revirar todos os pensamentos, varrer todos os fragmentos de coisas ruins. vai levar tudo pra longe, vai me deixar só. deitada. só o pó. pó e só.
é música que te deixa sozinha. se sentindo com necessidade do mundo, e sem ele. sem vê-lo girar. com remorço por ter falado demais. com remorço por não ter ouvido e estar saciado. saciado de um semi-nada.
te faz revirar as tripas e os olhos pra achar o que precisa sair. o que sufoca sem te deixar perder o ar. é contraditório. é o efeito colateral dos achados e perdidos. dói em todos. machuca em todos. e felicita quem consegue tirar de si essa cor que tem que sair. que ofusca os olhos alheios, os próprios olhos. ofusca o movimento do mundo. e enquanto não sair, bloqueia a ti. te deixa desnorteado sem saber o que tirar de si. sem saber se o que escreve faz sentido. se é mesmo uma cor, uma luz, ou se é um escuro que tem que ser exportado logo. se é uma voz, se é um ato, se é um nada ocupando espaço demais. se é uma lacuna a ser preenchida.
a música te faz ouvir o que não tá sendo dito. te faz sentir o que não tá sendo sentido. te faz doer o que não tá doendo. mas não te deixa bem. é a consequencia dessa dúvida que vai deixar. quando você a deixar. quando souber o que é essa cor, luz, escuridão, ato, lacuna. te obriga a saber cada fragmento do seu consciente e subconsciente pra poder retirar de si o que tá lá por conveniência.
vejo que estão me molhando e não tá chovendo. sinto o sol queimando e é noite. enxergo a cor mas tá escuro. me tira daqui. pára essa música. mas deixa ela tocando. quero saber o que tá em mim que não tem descrição ou solução. que não tem confusão ou precaução.
queria demonstrar o quanto odeio indecisão. o quanto me cansa querer escarrar alguém de vez em quando. e ao mesmo tempo em que me vejo imaginando uma cena poética de por do sol a beira do mar. queria demonstrar o quanto eu to cansada. mas só quando ouço essa música é que sinto esse cansaço em mim. cansei de procurar e achar, e 'desachar'. cansei de descobrir e encobrir. me encobrir, ver as pessoas se encobrindo. cansei de não tar cansada. cansei de só ver a amplitude. cansei de ver detalhes. cansei das palavras, cansei das atitudes abrangentes. cansei de ferramentas certas pra abordar coisas que não são certas. nem erradas.

Sit Still
And close your eyes
What’s behind the other door
Oh, no more silence


nao quero mais o silêncio. e não quero mais berrar. nem falar baixinho. quero ouvir a música até que meus olhos se cansem de ler minhas próprias palavras, quero ouvir até que me reverta o estomago cheio de borboletas. porque elas me fazem tão bem? tantas coisas ditas em tantas linhas que poderiam se resumir a poucas. a pouco. como a música faz sentir. só o pó. pó e só.
de repente uma vontade de inspirar, mastigar tudo em mim. tudo em volta. abrir qualquer fresta pra que toda essa cor que escureceria tudo. ou coloriria. ou simplesmente deixasse tudo neutro, claro, sem essas frases encobertas, sem toda essa subjetividade, sem todo esse pudor universal. sem essas leis de sentir universais. sou livre sob o chão que piso e estou presa a uma música que me deixa presa a a mim como nunca estive antes. numa busca insaciável pelo
prazer de ser livre de qualquer coisa que não seja clara. pelo simples prazer de ser livre em todo o contexto que nos enreda, de ser livre em si.

Oh, life is spinning round
You’re going underground
Forgetting who we were
Let’s try and keep it
Just one more day



não quero que me leiam. nem que escutem a música. aliás, não escutem. todos deveriam escutar se sentissem o mesmo que eu. mas deve ser pura ilusão.

its just a sound.

é só um som. que toca, toca,mas no fundo berra no meu mundo e me faz buscar qualquer coisa em mim pra tirar essa agonia de ficar sentada ou em pé sentindo a mesma coisa. a mesma fúria com o pudor do mundo. com essas máscaras de fachada, com essas coisas que o mundo não vê ou escuta. pq não escuta a si. a única diferença dessa música entre todas as outras do mesmo artista, com o mesmo ritmo, com a mesma letra é que ela quebra todos os seus pudores, arranca todas as suas mascaras, e ao invés de ouvi-la, vc se vê escutando a si.

1 comment:

Anonymous said...

maravilhoso


grande menina!

=]