Sunday, December 10, 2006

sinceramente.

- bom te ver
- bom te ver também. como você está?
- bem. por onde anda você?
- rodopiando pelos mesmo bares nas noites boêmias.
- malibu com abacaxi sem açucar? eu quis dizer, onde anda você agora, dentro de mim? você ainda plana em qualquer lugar em mim, silenciosa e sutil como sempre? desculpe não saber. tenho me perdido em mim mesma com facilidade.
- malibu com abacaxi sem açucar, sim. me perdi dentre a noite, será que me perdi de você, em você também?
- creio que apenas não tenha seguido o mesmo rumo que sempre costumaram seguir. acho que perdi meus olhos enquanto te procurava. mas vou saber te encontrar nessa escuridão, você sempre teve qualquer luz.
- tive, é? pensei que eu era mais um lampião como os outros que já te apagaram e foram luz durante algum tempo. devo dizer que você ainda cresce, e me aquece, e me deixa me achar sem ao menos precisar procurar. sou qualquer coisa encontrável quando te encontro dentro de mim.
- eu me faço encontrável enquanto te perco. quando te acho, te encontro, me aqueço, te vejo, te lembro, meus pés desfilam pelo ar, o desnorteio vem. hoje, isso aconteceu pela primeira vez depois que você partiu. há cinco minutos atrás comecei a subir.
- sei bem. o que você sempre me remetia era o desnorteio. remetia não, você era meu desnorteio, eu rodava e rodava e acabava na puta que pariu, mas com meus lábios nos seus
- melhor o encontrável do que o desnorteio, não é?
- mais lúcido, eu diria.
- meus pés sentem o chão se dissolvendo quando ouço o som da sua voz.
- tenho tanta coisa pra te dizer.
- tenho tantos poemas pra te entregar. eu ainda te faço sair do chão?
- suspirar eu diria que sim. esse seu perfume, você ainda não mudou não é? sabe que é um dos seus maiores charmes. o jeito que esse perfume se ata a você é como todas acabam se atando no final da noite.
- e partem depois.
- e voltam a suspirar.
- seu poder de me deixar sem palavras ainda persiste.
- tem escrito?
- só poemas nas últimas estações.
- você escreve o que quer ouvir.
- a verdade fere, não sou capaz de escrever verdades que virão a corroer meu corpo junto a meus dedos depois.
- escreva. escreva que você ainda me procura dentro de você. e só não acha por que segue o ponto em que sempre quis que eu estivesse estagnada, o ponto que eu não poderia ter abandonado. aquela reta. eu te acho porque você me completa e estagnou em mim em qualquer lugar do meu corpo em que queira achar, mas você não brilha mais na escuridão onde sempre esteve. não há mais escuridão.
- já ouvi qualquer coisa que parecesse com isso. numa despedida nossa. é mais uma mentira para promover um novo encontro? ou uma nova despedida?
- você ainda mente para si? e por consequencia para o mundo, claro...
- tenho trabalhado nisso. mas não me critique dessa forma e nesse ponto, você sabe que sei correr de críticas e que não as suporto. conheço-as bem. de qualquer forma, deixei sempre claro a você que não sabia que porra era você dentro de mim e até hoje não sei. sei que meus últimos poemas de estações passadas esbravanjavam qualquer sentimento que costumava ser gritado a quatro cantos. você se transformou nos meus quatro cantos.
- você quer me acompanhar no malibu e tentar se encontrar, me encontrar, encontrando seu lábios nos meus no final da noite?
- não, eu os quero ver falando, bebendo, escarrando, fumando de uma forma que nunca prestei atenção por só quere-los contra os meus no começo, no meio, e no final da noite.
- você quer passar a noite prestando atenção nas minhas mãos gesticulando enquanto choro pelo peso em minhas costas, vê-las levando os copos e os tragos do cigarro a boca para tocá-las no final da noite?
- não, quero-as para perceber seu toque no mais superficial dos objetos como nunca percebi por querê-las segurando minhas mãos ou seguindo meu corpo como um pincel na tela.
- você não quer nada de mim essa noite?
- quero-a inteiramente, só para meus olhos que creio tê-los encontrado por encontrar você num acaso da noite boêmia. mas de uma maneira nunca tida.
- um malibu com abacaxi sem açucar, por favor.
- um maço do cigarro mais forte e uma dose da bebida mais forte também, por favor.
- por que isso?
- pra acompanhar a dor que você me dói de vez em quando. tudo do mais intragável, que é como me desce te ver e ter que admitir que estamos vestindo o que já não somos nós. ter que estagnar os pés no chão por não ter mais forças.
- você ainda quer dormir comigo?
- você ainda quer dançar comigo?

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