Thursday, January 29, 2009

chama

eu ouço música por que acentua todas as cores que me habitam vez em quando. minha tristeza fica mais triste quando ouço chico, minha alegria mais alegre quando ouço jorge ben, meus olhos mais verdes, minha pele mais branca, meu sorriso mais largo, meus dedos mais sensíveis, a beleza mais bela e essas coisas que ficam se acentuando ao decorrer dos dias e a gente nem percebe.
eu não ouço mais música. não vivo mais pra acentuar essa coisa que vive em mim e precisa de alcool pra atear fogo. eu ardo. ardo todos os dias, sem melodia, sem sorriso, sem verde, sem mar, sem céu, sem pele, sem dedos, sem corpo. ardo sem harmonia e tão desafinada que ardo até que não apago. choro no azul do céu que não é mais azul do que ontem, olho no verde dos olhos que não é mais verde do que todos os outros dias, respiro um ar tão impuro e ingênuo quanto o de todos os outros dias. ardo como quem vive.
levanto minhas pernas e caminho até a sala ou até o outro lado da cidade e meus passos continuam sendo os mesmos, o caminho continua sendo o mesmo. e eu ardo. ardo enquanto durmo ou acordo, levanto ou sento, como ou bebo, rio ou choro, cheiro ou mordo, corro ou deito. ardo como o céu arde num azul cinzento tão belo quanto todos os outros dias e vê passando nuvens de formas e dramas tão diferentes que o céu continua sendo céu. eu ardo enquanto permaneço tão estática quanto a flor que nasce no asfalto. ardo como quem chora...

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